As investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre manifestações antidemocráticas estão perto de identificar os maiores financiadores dos atos golpistas, segundo o deputado distrital Chico Vigilante (PT), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a tentativa de golpe em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023.
Nesta quarta-feira (29/3), os deputados que compõem a CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) se reuniram com o ministro Alexandre de Moraes, do STF. O integrante da Suprema Corte e os parlamentares dialogaram por mais de uma hora.
Durante o encontro, o ministro mencionou que as investigações apuram quem são os financiadores dos atos promovidos por bolsonaristas, com divisões entre pequenos e grandes investidores, além do núcleo de organização.
“Falamos para ele da necessidade de compartilhar com a CPI dados investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Moraes designou um juiz auxiliar do gabinete dele para ter contato com nosso procurador da comissão. O que puder ser compartilhado será”, enfatizou o distrital Chico Vigilante.
O tema Anderson Torres também entrou na pauta, mas o ministro voltou a lembrar a jurisprudência que impede a condução coercitiva do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL).
“O ministro, infelizmente, não pode obrigá-lo [Anderson Torres] a comparecer para falar, mas até brincou, dizendo: ‘Olha, quando isso foi votado no Supremo, de não ter condução coercitiva, fui contra, mas perdi'”, detalhou o deputado, em menção à fala de Alexandre de Moraes.
Colaboração entre investigações
Os deputados distritais pediram acesso a documentos relacionados ao 12 de dezembro, quando houve tentativa de invasão à sede da Polícia Federal em Brasília, e ao 8 de janeiro, data de invasão às sedes dos Três Poderes.
Depoimentos, laudos, relatórios, além de imagens de circuitos internos e externos em poder do Supremo, por exemplo, são de interesse da comissão.
O relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), demonstrou interesse em aprofundar as denúncias contra o Exército. Relatos obtidos pela comissão apontam suposta proteção aos golpistas em casos de tentativas de ações por parte da Polícia Militar.
“Indaguei o ministro e falei que praticamente houve um conflito entre a força de segurança da Polícia Militar com o Exército Brasileiro para poder tirar aquele acampamento.”
Ainda segundo integrantes da CPI, Moraes classificou o movimento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília como “criminoso”. O ministro também teria prometido prender em flagrante responsáveis por quaisquer acampamentos semelhantes e com pedidos de intervenção militar.
Usados por golpistas
As duas investigações em andamento, no STF e na Câmara Legislativa, revelam que diversas pessoas de fora de Brasília foram usadas para fortalecer a tentativa de golpe.
Por isso, tanto o ministro quanto os deputados distritais tentam identificar financiadores dos movimentos bolsonaristas. A reunião mencionou, inclusive, casos de pessoas de outros estados que viviam em situação de rua, mas foram levadas a Brasília para participar de ações promovidas por apoiadores do ex-presidente.
“O ministro falou que 90% dos vândalos não são de Brasília. Até citou o ‘inocente útil’. É aquele que estava lá, dizendo que foi orar. Eles [os financiadores] usaram muito dos inocentes úteis para fazer aquilo que eles fizeram nos dias 12 [de dezembro] e 8 [de janeiro]”, destacou Hermeto.