Com obras atrasadas, brasilienses enfrentam transtornos em diversas regiões

Secretário de Governo, José Humberto Pires transferiu a culpa da falta de cumprimento dos prazos para a pandemia, a burocracia e até o clima

atualizado 25/02/2023 8:40

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Túnel de Taguatinga Hugo Barreto/Metrópoles

A demora na entrega de obras viárias em todo o Distrito Federal e a descaracterização em projetos urbanísticos de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer têm causado transtornos a moradores, comerciantes, usuários do transporte público, pedestres e motoristas brasilienses em diversas regiões do DF.

Canteiros de obras em locais de grande circulação e em vias vitais para a mobilidade da cidade são um transtorno para quem precisa percorrer os trajetos diariamente. Além da expectativa pela inauguração, a comunidade tem de conviver com os problemas e as dificuldades que aparecem ao longo do processo.

As justificativas do secretário de Governo do DF, José Humberto Pires, para explicar a demora nas entregas são variadas. Segundo ele, alguns contratos precisaram ser reavaliados por questões burocráticas. O chefe da pasta ainda colocou culpa na pandemia e no período de chuvas para esclarecer o não cumprimento dos prazos. As desculpas, no entanto, não convenceram quem enfrenta, todos os dias, os desgastes gerados pelas obras.

Viadutos

No Túnel de Taguatinga, por exemplo, as obras começaram em julho de 2020. A princípio, o projeto custaria R$ 200 milhões, mas o Governo do Distrito Federal estima que o preço total ficará em R$ 275 milhões.

A promessa inicial era que o túnel seria entregue em 2021, mas a previsão foi alterada para 2022. Embora haja alguns trechos liberados, a inauguração ainda não aconteceu.

Motoristas que trafegavam pela região, nessa sexta-feira (24/2), reclamaram da situação. “Moro em Vicente Pires, trabalho em Ceilândia e os meus filhos estudam no centro de Taguatinga. Passo diariamente pelas redondezas. O trânsito está bem complicado. O retorno para casa, por exemplo, é na altura da Feira dos Importados de Taguatinga. A gente perde bastante tempo no trânsito. O cálculo do prazo de término ficou errado. A situação está ruim, principalmente nos horários de pico”, disse o representante comercial José Fernando Silva Porto, 62 anos.

Os transtornos afetam a região central e todas as áreas próximas à construção. Donos de estabelecimentos nas adjacências se queixam da queda no movimento. “Caiu bastante. Primeiro pela pandemia e, depois, pelas obras. Sabemos da importância e necessidade dessa obra. A expectativa é boa para depois da inauguração. O atraso na entrega impacta diretamente o comércio local”, comentou a gerente de uma papelaria na região, Zenaide Pereira Silva, 64.

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José Fernando Silva Porto, 62 anos

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Daniel Bruno Viana, 36 anos

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Congestionamento no centro de Taguatinga

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Engarrafamento no início da manhã

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Paradas de ônibus inacabadas

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Obra ainda precisa de concreto

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Centro de Taguatinga

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Obras no Túnel de Taguatinga

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Obras começaram em 2020

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Intervenção causa transtornos na região

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Motoristas reclamam da demora na entrega

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O motorista de transporte por aplicativo Daniel Bruno Viana, 36, também apontou transtornos. “Circulo no centro de Taguatinga todos os dias. Uma viagem que, antes, durava aproximadamente 10 minutos dura agora de 40 ou 50 minutos por conta dos engarrafamentos”, relatou.

Apesar das reclamações da população, o secretário de Governo do DF, José Humberto Pires, afirmou ao Metrópoles que nenhuma obra está paralisada. O titular da pasta pontuou ainda que o atraso, em alguns casos, foi ocasionado pelas chuvas e pela pandemia, o que afetou os preços da construção civil e levou o governo a fazer reequilíbrio de contrato.

“Não tem nenhuma obra parada. Todas estão em ritmo acelerado agora. Vamos recuperar o tempo perdido o mais rápido possível”, afirmou. (Veja resposta completa mais abaixo).

Outra obra com entrega atrasada é a do Viaduto Luiz Carlos Botelho, também conhecido como Viaduto do Sudoeste.

Lançada em junho de 2021, a estrutura está sendo erguida na intersecção da Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig) com o Sudoeste e o Parque da Cidade. A obra vai acabar com o gargalo na entrada do Sudoeste, fazer com que o trânsito flua na Epig e beneficiar diariamente cerca de 25 mil motoristas. A entrega, prevista inicialmente para julho de 2022, não aconteceu. O investimento na estrutura é de cerca de R$ 24,6 milhões.

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Obras no Viaduto da Epig

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O investimento na estrutura é de cerca de R$ 24,6 milhões

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A obra vai acabar com o gargalo na entrada do Sudoeste e fazer com que o trânsito flua na Epig

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Lançamento ocorreu em junho de 2021

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Previsão de entrega era em julho do ano passado

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Tesourinhas

Um dos símbolos do projeto urbanístico de Lúcio Costa, as tesourinhas do Plano Piloto estão passando por reformas desde outubro de 2020. O valor do investimento para a recuperação das tesourinhas da Asa Norte – já revigoradas – e da Asa Sul é de R$ 20 milhões.

A reforma, no entanto, despertou polêmica na opinião de urbanistas e da população, que questionam a remoção dos ladrilhos terracota das estruturas – conforme aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) –, dando lugar ao concreto aparente, que será o padrão de todas as tesourinhas.

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Barbeiro, Sandro de Jesus Oliveira Sales, 52 anos

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Tesourinha já reformada na 203/204 Sul

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Reforma das tesourinhas da Asa Sul

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Urbanistas criticam descaracterização histórica da cidade

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Obras em andamento na 105/106 Sul

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Retirada dos ladrilhos terracota das estruturas que passam por intervenção

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O barbeiro Sandro de Jesus Oliveira Sales, 52, é um dos donos da Barbearia Caiçara, localizada no comércio da 106 Sul há 22 anos. Ele diz que não aprovou a mudança. Com 36 anos na capital federal, o profissional mineiro ressaltou a importância de manter o patrimônio histórico.

“Os técnicos alegam que os tijolinhos tapavam algum tipo de problema na estrutura que pudesse aparecer. Como admirador fiel da cidade, defendo que poderiam manter a característica original. Seria o melhor”, defendeu.

O urbanista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Benny Schvarsberg acredita que a substituição prejudica a identidade histórica da cidade. “Essa cerâmica faz parte de inúmeros espaços e obras públicas desde a origem de Brasília. É patrimônio histórico de Brasília. Substituir essas peças por concreto é um desrespeito com a memória da cidade e de seus habitantes”, ponderou o urbanista.

“Na minha opinião, a justificativa do governo para a retirada desse material é, tecnicamente, discutível. Avalio que a supressão dessas referências históricas que a cidade possui vai, em alguma medida, fazendo perder essa linguagem arquitetônica e paisagística que precisamos preservar”, acrescentou o especialista.

Ponte Honestino Guimarães

Na Ponte Honestino Guimarães, no Lago Sul, o GDF executa obra de acabamento e instalação de novos guarda-corpos e iluminação. Quem passa pelo local com frequência consegue perceber a presença de uma grande passarela de concreto na lateral direta da faixa.

Insatisfeitos com a intervenção, moradores reclamam que as obras executadas descaracterizam o trabalho de Oscar Niemeyer. Segundo eles, a nova estrutura altera o visual da ponte e não preserva a autenticidade do projeto original.

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Segunda ponte do Lago Sul

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Um grupo de moradores do Lago Sul denunciou a intervenção feita pelo Governo do Distrito Federal (GDF) ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

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Moradores reclamam que obras descaracterizam projeto original

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Equipes da Novacap trabalham no local

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Estrutura é considerada patrimônio histórico de Brasília

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Obras na ponte

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Em julho deste ano, a reportagem mostrou que moradores denunciaram a obra ao Iphan.

A ex-administradora do Lago Sul Natanry Osório, 83, criticou o tamanho da área de concreto. “O nosso questionamento é o seguinte: por que um gradil tão agressivo e que descaracteriza a leveza e a beleza da concepção daquela ponte?”, pontuou.

O urbanista Schvarsberg disse compartilhar da crítica feita por Natanry. “Temos um sentimento afetivo pela cidade. O aspecto que a crítica coloca é que, originalmente, a Ponte Honestino Guimarães é uma obra projetada por Oscar Niemeyer. Uma intervenção naquela ponte, ainda que seja motivada por segurança, não respeitou suficientemente a criação original. Uma intervenção que pesou numa estrutura leve”, concluiu.

O que diz o secretário de Governo do DF, José Humberto Pires:

Em nota enviada ao Metrópoles, o secretário de Governo local, José Humberto Pires, justificou que questões climáticas, pandemia e “mudança de patamares” nos preços de alguns projetos contribuíram para que as entregas de projetos anunciados fossem postergadas.

“Os eventuais atrasos que ocorreram foram decorrentes de questões que a pandemia ocasionou, como a falta de material dos fornecedores por conta do desabastecimento provocado pela parada das empresas fornecedoras, e a mudança de patamares de preços que acabaram gerando pedidos de reequilíbrio de contratos. Também eventuais atrasos são decorrentes de situações climáticas diferentes do habitual, que nós enfrentamos este ano”, disse.

O que diz a Secretaria de Obras:

Acionada, a Secretaria de Obras elencou os motivos que levaram ao atraso nas obras citadas na reportagem.

A Secretaria de Obras informa que, no caso do viaduto da EPIG, as obras foram fortemente impactadas pela falta de insumos no mercado nacional, especialmente aço e concreto. A situação melhorou, mas ainda não foi completamente normalizada. Os pedidos junto aos fornecedores de aço, por exemplo, antes com entrega quase que imediata, agora são atendidos com prazo que variam de 15 a 30 dias, a depender da quantidade adquirida.

No caso do túnel de Taguatinga, a obra foi recentemente impactada pela falta de componentes eletrônicos no mercado mundial, o que atrasou sobremaneira a entrega dos equipamentos responsáveis pelo controle dos sistemas de iluminação, ventilação, incêndio e segurança. Esses equipamentos foram comprados ainda em 2021, com entrega prevista para setembro de 2022. Essa entrega, no entanto, ainda não foi realizada pelos fornecedores. Isso impacta diretamente a entrega da obra, uma vez que somente ser possível a liberação do tráfego de veículos com todos esses equipamentos em pleno funcionamento.

 O projeto da obra da Ponte Costa e Silva foi submetido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão competente para avaliar as questões que podem ferir o patrimônio histórico, que emitiu um parecer afirmando que o projeto não altera e nem prejudica a ideia original de Oscar Niemeyer. A ponte mantém seu perfil longilíneo para um observador externo, como foi arquitetado por ele. O projeto só foi aprovado e iniciado após essa avaliação do Iphan.

Sobre os tijolinhos, a retirada foi necessária para a revitalização e como um movimento pela segurança da população, uma vez que contribui para as vistorias e manutenção da estrutura, já que esse tipo de revestimento esconde as patologias e suas gravidades. Além disso, esse tipo de revestimento não existe mais para venda, necessitando de grande orçamento para a produção e uma nova aplicação e, a cada manutenção, a remoção do tijolinho e uma nova aplicação.

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