Cirurgia intrauterina é feita em bebê de 20 semanas pela 1ª vez no DF

Para evitar problemas futuros, a correção precisa ser feita o mais precoce possível, mas, no DF, a cirurgia só era feita após o nascimento

atualizado 03/11/2023 17:11

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Imagem colorida: médicos fazer cirurgia em gestante - Metrópoles Getty Images

Um procedimento inédito foi realizado na sexta-feira (27/10), por neurocirurgiões do Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). Uma mãe, com 20 semanas de gestação, passou pela operação no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). A cirurgia intrauterina, realizada pela primeira vez em Brasília, contou com ambos hospitais da rede pública do Distrito Federal atuando em conjunto, tornando a cirurgia de mielomeningocele um completo sucesso.

O neurocirurgião do HCB que participou da operação, Flávio Leão, explica as dificuldades da mielomeningocele, ou disrafismo espinhal, também conhecida como espinha bífida. “Nesses casos, a coluna não fechou; a medula está exposta, as membranas estão abertas”, disse. Para evitar problemas de saúde futuros, a correção precisa ser feita o mais precoce possível, mas, no DF, a cirurgia só era feita após o nascimento do bebê.

“Trabalhos anteriores mostraram que o fechamento da coluna na fase fetal, entre 10 e 26 semanas de gestação, diminui os ricos de hidrocefalia e melhora o prognóstico para o desenvolvimento motor”, afirma Flávio.

O neurocirurgião explica como a equipe atuou durante o procedimento: “O obstetra faz a abertura uterina e nós  – o neurocirurgião do HCB Márcio Marcelino também participou da cirurgia – fazemos o fechamento da coluna, tal qual nos procedimentos na fase pós-fetal; o obstetra fecha todas as camadas e continua acompanhando a mãe. Já o acompanhamento da criança com a equipe da neurocirurgia é para o resto da vida, para monitorar se ainda há algum risco de hidrocefalia”.

O que é mielomeningocele

A doença ocorre quando há malformação na coluna do bebê, que fica exposta, fora do corpo. A enfermidade gera limitações motoras e problemas neurológicos desde o útero, com consequências até o fim da vida. Com a cirurgia intrauterina, contudo, as chances de recuperação plena são maiores que nos casos em que o procedimento ocorre só depois do nascimento.

A correção de mielomeningocele foi realizada, ainda em gestação, pela primeira vez no Distrito Federal e essa condição altera o rumo das cirurgias na capital. “Esse diagnóstico já deixa as famílias em um estado de fragilidade e elas ainda precisavam buscar atendimento em outro estado; caso acontecesse alguma intercorrência e o parto precisasse ser feito, isso acontecia longe de casa”, conta o neurocirurgião.

A mãe, Raiane da Rocha, 36, recebeu alta nessa quarta-feira (01/11) e está realizando o sonho de ver o filho nascer e crescer saudável cada vez mais próximo. O parto está previsto para fevereiro de 2024 e será realizado um acompanhamento durante todo o processo.

“Para qualquer mãe, é um alívio”, celebra Raiane, que chegou a ficar dois dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não apresentou complicações. A moradora de Águas Lindas de Goiás (GO) diz ter ficado feliz pela oportunidade de realizar o procedimento perto de sua família. Caso não desse certo da operação ser no DF, a outra opção era passar pela cirurgia em São Paulo.

Alta de paciente após cirurgia intrauterina
Alta de paciente, Raiane da Rocha, após cirurgia intrauterina

Lucilene Florêncio, secretária de saúde, acompanhou a alta hospitalar e agradeceu à mãe pela confiança. Também informou que, agora, a secretaria de saúde do Distrito Federal (SES-DF) estará preparada para realizar procedimentos do tipo. “Desejamos que não sejam muitos os casos, mas teremos. Está em construção uma rede de cuidados para o atendimento”, afirma.

A diretora do Hmib, Marina Araújo, destacou que o início dessas cirurgias na unidade exigiu um esforço administrativo. “Foi necessário fazer compras de insumos que não eram adquiridos. Agora estamos prontos para realizar novas cirurgias”, disse.

Para a cirurgia inédita, a SES-DF fortaleceu equipes, adquiriu materiais necessários e a disponibilizou equipamentos para o centro cirúrgico, além de fornecer leitos da UTI. O Hmib também já conta com experiência de outros procedimentos intrauterinos, incluindo transfusão de sangue para fetos e laser em gestações gemelares (presença simultânea de dois ou mais fetos na cavidade uterina).

Embora se trate do primeiro procedimento fetal para correção da espinha bífida, esse não é o primeiro caso de trabalho conjunto entre o HCB e o HMIB. Como ambos atendem crianças, ainda que em diferentes idades, os dois hospitais públicos mantêm contato para disponibilizar o melhor atendimento possível aos pacientes.

“A equipe do HMIB que acompanha gestações de alto risco fez a ecografia e nós fomos avisados na hora; a mesma coisa aconteceu, por exemplo, quando foi necessário fazer a separação da Lis e da Mel”, conta o neurocirurgião do HCB Benício Oton de Lima, que conduziu a separação das gêmeas siamesas craniópagas em 2019. Tanto Lima quanto o neurocirurgião do HCB Paulo Leão acompanharam o procedimento realizado na sexta-feira, que também contou com a presença do obstetra e cirurgião fetal de São Paulo Fábio Peralta.

(Com informações da Secretaria de Saúde)

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