Após a coluna mostrar que o governo autorizou patrocínio de R$ 2,7 milhões para produção de uma série sobre fake news, a produtora beneficiada emitiu uma nota criticando a imprensa. Nela, Carol Villalobos, diretora da Villalobos Produções, alega que o incentivo não configuraria “acontecimento de interesse público” e critica a coluna e outros veículos que noticiaram o assunto.
A empresa questiona, ainda, o fato de “em meio a tantos projetos incríveis aprovados pela Ancine, somente este merecer uma matéria exclusiva”. E classifica como “sensacionalismo” a divulgação do patrocínio.
Embora a nota original da coluna tenha sido meramente informativa, sem qualquer juízo de valor, cabem aqui alguns esclarecimentos.
Os R$ 2,7 milhões para captação autorizados pela Ancine são oriundos de isenção fiscal. Há dinheiro público envolvido, tanto que o ato teve de ser registrado no Diário Oficial da União. Há interesse público.
Inicialmente, o assunto havia despertado o interesse da coluna por abordar um tema em voga: as fake news. Após a postura da produtora, contudo, outros pontos chamaram a atenção. Além do incômodo com a divulgação do patrocínio, há contradições nos argumentos apresentados.
“A Ancine é uma agência reguladora que realiza suas ações de forma independente de governos, e o projeto existe desde 2019. (…) O fato do (sic) projeto ter sido aprovado somente em março/23 é uma consequência do desmonte e censura à cultura durante o governo Bolsonaro, não uma ligação direta com o fato da troca de governo”.
Ou seja, a produtora afirma que a Ancine é independente, mas, ao mesmo tempo, sugere que a antiga gestão dificultava a aprovação do patrocínio.
Segue, aqui, o link da matéria original. E, abaixo, a íntegra da nota publicada pela Villalobos Produções.
Abaixo, seguem mais informações sobre a série.
Série vai detalhar origens e padrões das fake news no Brasil
Uma série de TV vai detalhar as origens e os padrões da disseminação de fake news no Brasil. Com uma primeira temporada de 10 episódios, a série, intitulada Fantástica Fábrica de Fakes, vai analisar a forma como foram noticiados acontecimentos históricos como a Proclamação da República, até a Constituição de 1988.
O projeto teve sua captação de recursos autorizada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) em março. A diretora da série, Carol Villalobos, explica que a produção deverá ter início após um outro edital, do Fundo Setorial Audiovisual, quando um contrato com uma emissora de TV poderá ser assinado.
“Esse é um projeto de 2019. Antes da Ancine, já participamos de um edital de fomento do governo do Distrito Federal. O projeto foi enviado para a Ancine em março de 2022 e a primeira análise foi concluída em junho. O prazo para a análise final era de 25 dias a partir daí, mas ela só foi concluída em dezembro. E agora saiu a portaria”, conta.
De acordo com a diretora, a série vai apontar a sistematização das fake news no Brasil a partir de modelos de desinformação usados no mundo inteiro ao longo da história.
“Cada episódio vai tratar de um caso diferente, mostrando a forma como esses acontecimentos foram noticiados, como governos e entidades usam esses padrões para promover a desinformação. Vamos falar sobre a Proclamação da República, o Golpe de 64, o Rio-Centro, até a Constituição de 1988”, explica Carol Villalobos.
Ela prefere não revelar o nome da emissora de TV interessada em exibir a produção.