O policial penal Eliel Alef da Silva, de 29 anos, relata ser alvo de perseguição de traficantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele registrou ocorrência no dia 20 de outubro alegando ter sido ameaçado por quatro integrantes da facção.
Diagnosticado com autismo, ele diz ter se mudado de São Paulo para o Rio de Janeiro na tentativa de escapar da organização criminosa, uma vez que teria sofrido ameaça de morte do PCC quando atuava na penitenciária paulista de Franco da Rocha.
Em maio, um policial penal que trabalhava nesse mesmo presídio foi morto a tiros no interior de São Paulo. “Estou desesperado. Temo pela minha vida”, disse Eliel Alef em conversa com a coluna.
O Governo de São Paulo confirmou que Eliel Alef é servidor concursado [agente de segurança penitenciária] e informou que, atualmente, o policial se encontra de licença para tratamento de saúde.
Em relato à Polícia Civil do Rio, o agente penitenciário disse ter sido seguido por quatro homens dentro de um carro sem placas. Um dos homens descritos por Eliel tinha uma tatuagem no rosto.
“Esses elementos tinham fisionomia semelhante a elementos da facção PCC que já me ameaçaram no serviço [em São Paulo], pois sou agente penitenciário e hoje não tenho mais contato porque fui transferido de unidade”, disse Eliel no depoimento.
“Por estar desarmado e aguardando liberação das minhas armas pelo delegado titular da 77ª Delegacia de Polícia, solicitei viatura da Polícia Militar, quando os elementos se evadiram”, continuou o policial penal.
Eliel cobra a devolução de suas armas pela 77ª Delegacia de Polícia, em Niterói, Região Metropolitana do Rio, desde setembro. O armamento foi apreendido após representação da Defensoria Pública da União.
Armas apreendidas
A defensora Reuza Carla Duarte Campos Souza informou ter recebido, no dia 6 de setembro, um vídeo em que o policial, insatisfeito com o atendimento da Defensoria, ameaçava cometer suicídio no local.
No vídeo, Eliel aparecia com uma pistola Glock calibre 9mm e uma carabina FAM calibre 9mm. No dia 13 de setembro, as armas, as munições e os carregadores foram apreendidos na residência em que Eliel está morando, no Rio.
Na ocasião, o agente, que possui diagnóstico de autismo, afirmou à Polícia Civil que estava em surto no momento em que o vídeo foi registrado.
Após a apreensão das armas, Eliel apresentou, por meio de seu advogado, laudo psicológico alegando estar apto ao porte e manuseio de armas de fogo.
Ele também destaca as supostas ameaças do PCC para configurar caráter de urgência para a devolução das armas. A pistola e a carabina, no entanto, continuam sob a guarda da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
De acordo com o registro funcional de Eliel Alef da Silva, ele ocupa o cargo de agente penitenciário de segunda classe na Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo (SAP-SP). Atualmente, está lotado na Penitenciária Franco da Rocha.
A preocupação de Eliel Alef ocorre em meio à ofensiva do PCC contra policiais em diferentes estados pelo Brasil. A facção paulista é a que se faz presente em mais unidades da Federação, à frente da organização criminosa Comando Vermelho (CV).
Eliel pede a transferência de SP para o RJ, onde a presença do PCC seria menor.
Acompanhamento psicológico
Em contato com a coluna, a SAP/SP confirmou o vínculo de Eliel com o órgão. Ele estaria, no entanto, em licença para tratamento psicológico. Em nota, a secretaria alegou que o servidor negou o acompanhamento psicológico.
Leia abaixo a íntegra da nota da SAP/SP:
“A Secretaria da Administração Penitenciária informa que Eliel Alef da Silva é Agente de Segurança Penitenciária de Classe I e encontra-se em licença para tratamento à saúde no período de 03/10 a 31/12/2023.
O servidor estava realizando acompanhamento psicológico, na modalidade on-line, pelo Centro de Qualidade de Vida e Saúde do Servidor da SAP, no período de outubro de 2022 a outubro de 2023.
Durante o tempo do acompanhamento, foram registradas diversas ausências, e o setor de saúde fez várias tratativas com a família do servidor para que ele tivesse adesão ao tratamento, porém sem êxito”.
Em 2/10/2023, Eliel informou que estava desistindo do acompanhamento pela SAP e daria continuidade ao tratamento no seu estado de origem, onde residia no momento.