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Putin já perdeu a guerra

Um ano depois de invadir a Ucrânia, o tirano russo foi derrotado numa guerra que ainda não foi vencida por causa da hesitação ocidental

atualizado 24/02/2023 16:37

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Há um ano, Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, para completar o serviço sujo iniciado com a ocupação da Crimeia, em 2014. Eu estava em Paris e, de lá, escrevi muitas linhas sobre a guerra no coração da Europa. O aspecto mais surpreendente desse acontecimento que mudou o curso da história é que o movimento do tirano russo não foi uma surpresa. Estava anunciado havia anos nas livrarias próximas à minha então casa na capital francesa, cidade na qual fui correspondente. Existiam quilos de livros de especialistas que detalhavam o passo a passo da “estratégia da desordem” usada por Vladimir Putin para desestabilizar o Ocidente e reviver o império soviético. Mas os Estados Unidos e as potências europeias só decidiram abrir os olhos quando já era tarde demais.

Um ano depois da criminosa agressão russa, a Ucrânia ainda não venceu a guerra porque o Ocidente entrega menos armamentos do que deveria a Kiev. Vladimir Putin revelou ao mundo que a Rússia, do ponto de vista militar, é um gigante com pés de barro. Volodymyr Zelensky, por seu turno, mostrou ao mundo que preside um país de um povo tão valente quanto inteligente. A capacidade de organização e resistência dos ucranianos é, mais do que impressionante, espetacular.

Vamos aos fatos, contra os quais não há versões:

Vladimir Putin queria varrer rapidamente a Ucrânia do mapa e transformá-la em território russo. Não conseguiu. De acordo com as estimativas do governo americano, em um ano, a Rússia teve espantosas 200 mil baixas, entre soldados mortos e feridos. O seu exército cheio de estupradores e mercenários nazistas, que havia chegado aos arredores de Kiev, hoje pena para manter o leste ucraniano sob seu domínio. Boa parte do outrora admirável exército russo passou a ser composta por conscritos despreparados para o campo de batalha.

Vladimir Putin proclamava a inexistência da nacionalidade ucraniana. Pois a Ucrânia sairá da guerra com um sentimento nacional ainda mais forte, inclusive da parte da população russófona, que o tirano do Kremlin queria “libertar” dos “nazistas ucranianos”. O país será uma fortíssima e experimentada potência militar regional e deverá integrar a União Europeia.

Vladimir Putin apostava que a Otan, enfraquecida por Donald Trump, sofreria enormemente com dissensões internas. As dissensões existem, mas não foram suficientes para rachar a aliança militar de defesa do Atlântico Norte. Pelo contrário, a Otan fortaleceu-se e está para incorporar a Suécia, que antes era neutra, e a Finlândia, que tem extensa fronteira com a Rússia.

Vladimir Putin achava que poderia chantagear a Europa Ocidental, por ela ser dependente do gás e do petróleo russos. Um ano depois de iniciada a guerra, os europeus já não precisam do combustível fornecido pela Rússia para fazer andar a sua economia. Sofreram um baque, mas estão se recuperando, com novos fornecedores e a aceleração da transição energética, para eliminar a necessidade de combustíveis fósseis.

Vladimir Putin tinha a ilusão de que a Rússia poderia resistir às sanções impostas pelos Estados Unidos e pela Europa. Ao longos dos últimos anos, ele preparou o país para isso. No entanto, apesar da resiliência baseada nas exportações de gás e petróleo para a China, a Índia e a Turquia, a economia russa não poderá permanecer indefinidamente marginal ao comércio com as democracias ricas ocidentais e ao sistema financeiro internacional, sob pena de não crescer a contento ou até diminuir de porte no longo prazo. A Rússia tem uma economia do tamanho da da Espanha, já pequena demais para dar conta de uma guerra prolongada contra um país como a Ucrânia.  

Vladimir Putin, cada vez mais isolado no plano mundial, poderá levar a que a Rússia preste vassalagem à China, que agora compra mais barato o gás e o petróleo dos quais a Europa Ocidental já não mais depende. Para repor parte dos armamentos que perdeu na Ucrânia, Moscou recorreu a Pequim — que já foi advertida pelos Estados Unidos para não fornecer material bélico à Rússia. Neste momento, a China procura um caminho para dar saída honrosa ao aliado de pés de barro. 

Vladimir Putin já perdeu a guerra que não foi vencida pela Ucrânia, um paradoxo de mortalidade crescente, como ficará mais claro no início da primavera, com a provável nova ofensiva russa. Kiev poderia liquidar logo a fatura, obrigando o tirano a se sentar à mesa de verdadeiras negociações de paz, se o Ocidente deixasse de se intimidar com os blefes atômicos dele e passasse a fornecer massivamente os armamentos de que Kiev precisa, como caças e mísseis de longo alcance.

Enquanto o Ocidente titubear, Vladimir Putin se sentirá livre para continuar a barbarizar na Ucrânia. O escritor franco-americano Jonathan Littel foi direto ao ponto, ao escrever em artigo publicado no jornal Corriere della Sera que, com tantas hesitações, é como se os Estados Unidos e a Europa dissessem ao tirano russo: “Vladimir, apesar de tudo, ainda temos medo de você. Temos medos dos seus foguetes e das suas bombas nucleares. E para assegurar-lhe a nossa boa vontade, continuaremos a combater com uma das mãos amarrada”. Ou seja, “nós fazemos Putin crer que ele não perdeu”, resume o escritor. Glória imediata à Ucrânia.

 

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