Jair Bolsonaro voltou ao Brasil, depois de três meses nos Estados Unidos. Ainda tem medo de ser preso, mas está seguro de que isso não ocorrerá em breve, se é que ocorrerá, daí o seu retorno. A lembrança de 8 de janeiro ainda assusta quem se lhe opõe. Se não houver intercorrências no país onde tudo é possível, os seus processos, com exceção do que vai pela Justiça Eleitoral, deverão ganhar aquele horizonte longínquo, a perder de vista, proporcionado pelas instâncias inferiores da Justiça brasileira a quem de direito.
A liberdade foi trocada pela inelegibilidade? Numa corte eleitoral, o TSE, que não cassou a chapa Dilma Rousseff/Michel Temer, em 2017, por excesso de provas, a resposta permanece em aberto, por se ter outra vez pela frente mais um ponto de política do que propriamente de justiça. Assim como existe o purgatório entre o paraíso e o inferno, poderá haver para Jair Bolsonaro um meio termo que lhe permitirá concorrer em 2026.
Tudo depende do que será melhor para o sistema de pesos e contrapesos do grupo que dá as cartas em Brasília, cujas conveniências são próprias e nem sempre coincidentes com as do país. Manter Jair Bolsonaro presidenciável é mais adequado ou menos adequado do que transformá-lo em mártir da Justiça Eleitoral? Uma condenação não o fortaleceria ainda mais do ponto de vista político, garantindo ao seu campo ideológico uma dose extra de força eleitoral? Isso é bom ou isso é ruim? De outro ângulo: é mesmo salutar para quem dá as cartas em Brasília tirar do ringue o maior adversário eleitoral de Lula? Não seria mais interessante mantê-lo, sob controle, no jogo? Ao mesmo tempo, tirar Jair Bolsonaro da disputa eleitoral não seria interessante para fortalecer uma candidatura de centro contra o petista?
Sim, é provável que o TSE torne Jair Bolsonro inelegível. Essa é a tendência hoje. No tribunal, porém, contam menos as convicções e simpatias pessoais de cada ministro do que o conjunto da obra a ser construída pelo plenário. Às vezes, é preciso que tudo mude para que tudo continue como está, para usar a máxima do escritor italiano Tomasi de Lampedusa. Mas o mais comum, com o perdão do truísmo, é que nada mude para que tudo continue como está. Foi o ponto de vista que prevaleceu em 2017, no julgamento da chapa Dilma Rousseff/Michel Temer, guardadas as devidas diferenças de temperatura e pressão.