Com Rebeca Ligabue, Luiz Maza, Júlia Marques, Pedro Ângelo e Igor Teixeira

Minimalismo e tecnologia: veja destaques da Semana de Moda de Paris

A capital francesa foi o destino final da temporada de outono/inverno 2023. Na edição, marcas olharam para os acervos em busca de inspiração

atualizado 14/03/2023 18:19

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Modelo em desfile da Coperni usa vestido preto e interage com cachorro robô na passarela - Metrópoles Francois Durand/Getty Images

O principal circuito de moda desembarcou na capital francesa a partir de 28 de fevereiro, para encerrar a temporada de outono/inverno 2023. A Semana de Moda de Paris se destaca pelas etiquetas clássicas que englobam a programação. O evento, que seguirá até esta terça-feira (7/3), tem sido marcado por desfiles criativos, tecnológicos e que propuseram o minimalismo sofisticado como alternativa ao excesso visto em edições anteriores.

Vem conferir!

Espetáculos de moda

Enquanto as etiquetas mais tradicionais usam os desfiles como um momento para estreitar a relação com o público, as marcas independentes não perdem a oportunidade de atrair os holofotes, seja por meio de elementos inusitados, seja por meio da inovação. Na Semana de Moda de Paris, não foi diferente.

A marca Anrealage começou a chamar atenção por conta das apresentações que atrelam tecnologia e performance; tudo isso demonstrado em uma cenografia digna de um filme sci-fi. Nas criações idealizadas por Kunihiko Morinaga, as peças feitas a partir de matérias-primas sensíveis à radiação ultravioleta mudam de tonalidade quando expostas às luzes.

Tal processo acontece graças ao fotocromismo, transformação química reversível entre duas espécies com espectros de absorção diferentes promovida por radiação electromagnética. No desfile, modelos apareceram a bordo de peças inteiramente brancas que, ao fim, ganharam cores e estampas. Até mesmo os cabelos foram tingidos de novos tons.

Na temporada de primavera/verão 2023, a Coperni conseguiu furar a bolha da moda e se tornar o assunto mais comentado por leigos e conhecedores do assunto. No fim do desfile, a marca surpreendeu a todos quando a modelo Bella Hadid apareceu seminua na passarela e teve um vestido confeccionado com spray sob o corpo.

A busca por inovação nas passarelas também marcou a apresentação de fall/winter 2023 nesta Semana de Moda de Paris. Em uma experiência futurística, Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant, diretores criativos da marca, colocaram cinco cachorros robôs do Boston Dynamics, que interagiram diretamente com as modelos.

A narrativa, alinhada com a tecnologia, teve como objetivo recriar a fábula francesa O Lobo e o Cordeiro, de Jean de la Fontaine, em moldes contemporâneos. “É uma bela história que fala sobre o equilíbrio de poder entre diferentes grupos. Em vez do lobo e do cordeiro, nós o reinterpretamos como humanos e robôs”, afirmou Vaillant em comunicado.

A marca Anrealage começou a chamar atenção por conta das apresentações que atrelam tecnologia e performance

 

Na apresentação, as peças feitas a partir de matérias-primas sensíveis à radiação ultravioleta mudaram de tonalidade quando foram expostas às luzes

 

Já no desfile da Coperni, modelos interagiram com cachorros robôs

DNA francês nas passarelas

Paris é sinônimo de história da moda, tradição e estilo atemporal. Tais elementos foram reverenciados por diferentes casas, cada uma à sua maneira. Na Dior de Maria Grazia Chiuri, três ícones franceses foram lembrados: a cantora Edith Piaf; a atriz Juliette Gréco; e Catherine Dior, irmã mais nova e primeira modelo das criações de Christian Dior, o fundador da maison.

A cada temporada, Chiuri busca exaltar mulheres que têm se destacado no universo criativo. Dessa vez, a convidada foi a portuguesa Joana Vasconcelos, que criou um jardim encantado a fim de homenagear a paixão de Catherine Dior pela botânica.

“As flores chinesas dela que inspiraram seu irmão Christian foram as que encontramos em nosso arquivo. Para homenagear essa mulher incrivelmente talentosa, decidimos trazê-las para o centro do palco novamente”, contou a designer em publicação no Instagram.

Ao olhar para os códigos tradicionais, a diretora criativa resgatou elementos sob uma nova ótica. Dos anos 1950, década que inspirou a coleção, veio a saia midi Corolle, que ora apareceu mais rodada, ora mais justa ao corpo. Nesse guarda-roupa pensado para as clientes, há peças que transitam nas mais diferentes ocasiões e que foram pensadas para atender a uma demanda em comum: mobilidade. Funcionais, versáteis e fluidas, os itens foram concebidos para vestir pessoas reais, que estão em constante movimento.

Jaquetas com estética puffer, camisas brancas, calças em modelagem reta, blazers e sobretudos foram as propostas para a temporada de outono/inverno 2023. Nos pés, a sugestão do styling foi brincar com contrastes e apostar em sandálias de salto com meias.

A Dior reverenciou três ícones franceses em seu desfile: a cantora Edith Piaf, a atriz Juliette Gréco, e Catherine Dior, irmã mais nova do fundador da casa

 

O jardim encantado no qual o desfile da Dior foi apresentado foi assinado pela artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos

 

A saia midi foi o ponto focal da coleção. Nos pés, o destaque ficou por conta das sandálias combinadas com meias

Os espetáculos costumeiros da Balmain foram substituídos por uma apresentação mais simples, mas longe de ser esquecível. Definida por Olivier Rousteing como um “ponto de virada” para a casa, as peças foram inspiradas no rico arquivo da marca e se concentrou em quatro pontos principais: design atemporal, artesanato, silhuetas marcadas e o novo estilo francês.

A coleção foi uma viagem que convidou o público a focar no essencial, que foi traduzido em forma de alfaiataria impecável, bons cortes e um tipo de elegância que transcende o tempo. “Para entender mais o futuro, você não pode negar o passado. A maison Balmain existe desde 1945, e meu papel há mais de uma década é traduzir o legado de Pierre Balmain no futuro. Como disse Frank Sinatra: ‘Eu fiz do meu jeito’. E vou continuar o fazendo”, definiu o designer via rede social.

Os espetáculos costumeiros da Balmain foram substituídos por uma apresentação mais simples. Definida por Olivier Rousteing como um “ponto de virada” para a casa, as peças foram inspiradas no rico arquivo da marca

 

As peças seguiram quatro diretrizes: design atemporal, artesanato, silhuetas marcadas e o novo estilo francês

 

A coleção convidou o público a focar no essencial, que foi traduzido em forma de alfaiataria impecável

Tudo mudou, nada mudou: a “nova” Balenciaga

Com a mudança de um diretor criativo, espera-se que a nova pessoa à frente do posto resete a imagem antes propagada a fim de começar do zero, como uma folha em branco.

Ao contrário do que o público pediu (para dizer o mínimo), Demna Gvasalia continuou na direção criativa da Balenciaga mesmo após as diferentes polêmicas envolvendo a marca. Por conta disso, eram altas as expectativas do desfile da grife depois do “cancelamento” coletivo devido a acusações de pornografia infantil.

No entanto, o que se viu foi um “repeteco” de tudo que já estava sendo feito. O que Demna entregou foi um minimalismo sóbrio já apresentado anteriormente, mas que comunicava algo nas entrelinhas: “estamos em obras”.

Blazers e casacos de alfaiataria reinaram na passarela, ao lado de blusas justas que enfatizavam uma ombreira arredondada com toques futuristas. Saias e vestidos plissados também tiveram vez. A cartela de cores, por sua vez, navegou entre o preto, o cinza e o branco. Alguns looks em azul e vermelho deram cor à coleção.

Sobre o momento de mudança, ele afirmou, em comunicado: “É a coleção perfeita para começar, depois de todo o drama, para sublinhar quais são os meus valores como designer: pensar e confeccionar roupas; sempre foi isso.”

A Balenciaga propôs um minimalismo sóbrio, com a presença de peças jeans, macacões e itens de couro

 

A cartela de cores transitou entre o preto, o cinza e o branco

 

É a coleção perfeita para começar, depois de todo o drama, para sublinhar quais são os meus valores como designer: pensar e confeccionar roupas; sempre foi isso”, afirmou Demna

Alexander Mcqueen, Valentino e Vivienne Westwood

Em uma semana que reforçou que a moda precisa, antes de tudo, ser um conjunto de tarefas bem executadas, a grife Alexander Mcqueen demonstrou, na passarela, o que é uma alfaiataria feita com primor. Sob o olhar de Sarah Burton, que dá continuidade ao legado do fundador, a técnica se mostra de maneira afiada, bem cortada, estruturada.

O fio de inspiração foi um princípio básico da modelagem: a anatomia humana. A supermodelo Naomi Campbell, em um macacão preto com um corpete espartilhado, abriu a passarela e foi seguida por uma marcha de ternos pretos, camisas brancas e gravatas pretas, sobretudos risca-giz, trench coats acinturados e vestidos com assimetrias.

A Valentino, que influenciou as marcas mundo afora a colorir as suas peças em tons de rosa, apresentou um repertório mais clean. Ternos pretos, camisas brancas, casacos de couro e botas tratoradas são as apostas da grife para as estações de temperaturas mais amenas.

Poás, listras e plumas foram vistos em algumas versões de jaquetas. Os tons mais abertos apareceram tímidos em acessórios, como bolsas amarelas e vermelhas. As gravatas finas, bem estilo Dior em meados dos anos 2000, também deram o ar da graça — não somente neste, mas em uma porção de outros desfiles da semana.

A passarela de Vivienne Westwood foi palco para homenagens à fundadora da grife que morreu em dezembro de 2022, aos 81 anos. A memória da revolucionária da moda foi representada através de sua neta Cora Corré, que fechou o desfile com um vestido de noiva.

Ela subiu à passarela a bordo de um minivestido de renda com espartilho, combinado com botas de plataforma brancas estampadas e presilhas no cabelo. O momento foi emocionante para os presentes, que aplaudiram o gesto. Corré mantinha um relacionamento afetuoso com a avó. No outono/inverno 2022, ela subiu ao palco no fim do desfile.

Na passarela, Alexander Mcqueen apresentou alfaiataria bem executada e vestidos glamorosos

 

Ternos pretos, camisas brancas, casacos de couro e botas tratoradas são as apostas da grife comandada por Sarah Burton para o outono/inverno 2023

 

A memória de Vivienne Westwood foi representada por sua neta Cora Corré, que fechou o desfile com um look de noiva

Para usar já

Muitos acompanham as semanas de moda a fim de mapear novas tendências e copiar as novidades dentro de uma realidade possível e acessível. Nas passarelas, as modelagens amplas reinaram no desfile da Saint Laurent, em especial nos blazers. Todo o desfile foi uma ode à sofisticação atemporal característica da grife, em que foram destacadas tonalidades neutras, cinturas marcadas com cintos de fivelas douradas e detalhes especiais em camisas, como os maxilaços e abertura nas costas.

A Loewe transportou para as criações um romantismo sereno, fluido e com ar retrô. Vestidos de cetim com corte reto foram estampados com flores desfocadas, como uma borrão. Em movimento, as peças mais pareciam uma ilusão de ótica.

Na mesma linha estética, o tie-dye ensaia um retorno de maneira repaginada. Na versão a lá Jonathan Anderson, o mix de cores surge como um contorno nas peças de maneira sutil. Trata-se de estampas coloridas e “borradas” com imagens da década de 1940. Por meio da estética, o estilista quis questionar o que é real na era da tecnologia.

Uma fato certeiro: as bolsas grandes serão o novo item da temporada. O acessório foi destaque em pelo menos 80% das apresentações, e o motivo não é à toa. As pessoas têm valorizado a praticidade em suas rotinas e, aqueles que trabalham fora, de maneira especial, buscam por “bolsas-casa”, que cabem tudo aquilo que elas precisam para o dia a dia. Mais do que uma tendência, a maxibolsa é a resposta para uma demanda.

Tonalidades neutras, cinturas marcadas e detalhes em camisas, como os maxilaços, foram destaque no desfile da Saint Laurent

 

Se depender da Loewe, o tie-dye retornará com nova estética

 

As bolsas grandes serão o novo hit. O acessório marcou presença em diversos desfiles de outono/inverno 2023

Nas redes sociais, uma questão preocupante foi levantada sobre os desfiles: a falta de representatividade e de inclusão. Ao que tudo indica, a obsessão da moda pelos anos 2000 veio acompanhada do culto à magreza. Somente modelos muito magras foram elencadas para as apresentações, sem exceções. Tal comportamento ilustra que, assim como as tendências, a moda parece ir e vir, evoluir e retroceder. No entanto, fica um questionamento coletivo: até quando?

A programação da Semana de Moda de Paris segue até a próxima terça-feira (7/3), com apresentações de marcas como Louis Vuitton, Chanel e Miu Miu. Fique de olho no Instagram Metrópoles Moda para conferir os destaques de encerramento.

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