A chegada do inverno é bastante imprevisível e pode trazer riscos a vários tipos de seres. Por isso, os humanos enfrentam o frio dentro de casa ou debaixo das cobertas. Na natureza, entretanto, a opção é outra. Isso porque alguns animais ficam em um estado de dormência profunda, conhecido como hibernação.
A hibernação é um processo no qual o animal diminui suas taxas metabólicas para economizar energia durante longas temporadas de frio. Na maioria das vezes, a ação é realizada por mamíferos de pequeno porte, a exemplo de hamsters e morcegos.
“Há diversos animais que têm essa característica de economizar energia em épocas de poucos alimentos, como algumas espécies de esquilos, morcegos e até borboletas. A hibernação é uma estratégia importante em locais de frio intenso e ausência de fonte alimentar”, explica o biólogo e mestre em zoologia Filipe Reis.
Apesar dos ursos serem apontados como animais que hibernam, muitos estudiosos não consideram essa afirmação verdadeira. Um dos motivos está no comportamento e na atividade metabólica, que não sofre grandes variações no frio, ao contrário dos animais hibernantes.
Explicação
O assunto voltou à tona nesta semana após um urso de pelo branco ser flagrado por uma câmera aparentemente saindo do período de hibernação. A publicação alcançou mais de 7 milhões de visualizações e os internautas se mostraram surpresos com a revelação.
Ao contrário do que as pessoas pensam, os ursos não hibernam. Segundo o biólogo Filipe Reis, o animal realmente fica recluso em sua toca durante as baixas temperaturas, mas acorda em alguns momentos para se alimentar e mudar de posição.
“Fêmeas podem até parir durante o período e cuidar dos filhotes, mas tudo sem sair de sua toca”, elucida. Animais que realmente hibernam não possuem essa capacidade, confirmando a tese de que ursos não passam pelo processo de hibernação.
Toda regra tem sua exceção
Ao Metrópoles, o biólogo e professor no Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), André Mendonça, revela que alguns ursos, a exemplo do polar e andino, são ativos durante todo o ano. As únicas espécies associadas à hibernação são o urso-negro e o urso-pardo.
“Essas espécies conseguem hibernar de 5 a 7 meses por ano, sendo que não comem, bebem, urinam ou até mesmo defecam. Durante a hibernação, o metabolismo do urso-negro diminui 25% da taxa normal e os batimentos cardíacos baixam de 55 para apenas 9 batimentos por minuto”, explica.
O biólogo ainda ressalta que a espécie utiliza gordura acumulada durante o processo de hibernação para se nutrir e hidratar. “Ao retornar à temperatura corporal normal e emergir das tocas, os ursos ainda conseguem manter a taxa metabólica reduzida por até três semanas.”
Por que ainda existem dúvidas sobre o assunto?
A discussão sobre a hibernação dos ursos ainda existe devido às diferentes interpretações e definições.
Alguns estudiosos sugerem que a espécie não atende a todos os critérios do processo, pois a temperatura corporal não cai tão drasticamente quanto em outros animais hibernantes.
“Os livros clássicos de fisiologia afirmam que os ursos não hibernam, devido à queda relativamente pequena na temperatura corporal, que vai de 37 graus para 32 ou 34 graus. Além disso, a espécie é capaz de despertar durante a hibernação para comer as reservas de gordura”, diz o biólogo André Mendonça.
No entanto, as evidências moleculares e fisiológicas mais recentes revelaram que os ursos hibernam, mesmo não apresentando grandes reduções de temperatura. A polêmica persiste devido ao comportamento da espécie e as estratégias de sobrevivência adotadas por diferentes animais e populações hibernantes.
Enquanto alguns estudiosos consideram que os ursos hibernam, outros preferem utilizar termos alternativos, como “sono de inverno”.
