Imagine a quantidade de memórias que uma pessoa na casa dos 100 anos carrega? Sem dúvidas, é uma existência marcada por grandes histórias, superações, experiências únicas e aprendizados. É ter o privilégio de ver os filhos, netos, bisnetos e até tataranetos crescerem aos seus olhos. É vivenciar as diversas transformações do mundo.
Quem tem a oportunidade de viver essa dádiva é Neusa Baeta, de 102 anos. Mãe de Ana Maria Gontijo, Eduardo e Paulo Henrique Baeta, a mineira de Lavras sempre fez de tudo para ver sua família feliz e realizada.
Nascida em 19 de fevereiro de 1921, ela conheceu o marido, o dentista Henrique Baeta, enquanto frequentava o colégio interno de freiras de sua cidade natal. Desse encontro, nasceu uma linda história de amor e ambos se casaram em 1941 — ela, com 19 anos, ele com 37.
Em 1964, o casal decidiu dar um passo importante na vida e se mudou para a capital federal. Apaixonada por trabalhos manuais e bordados, deu aulas no curso primário no Colégio Santo Antônio e no Rosário.
“Eduardo queria estudar medicina, então, viemos para Brasília para facilitar. Sempre gostei muito daqui, nunca me arrependi de ter vindo”, conta Neusa, que revelou gostar de tudo na cidade.
Durante a entrevista, Baeta contou com a presença da filha, Ana Maria Gontijo, com quem mora há 10 anos, e abriu com muito carinho as portas de sua residência no Lago Sul para receber a Coluna Claudia Meireles.
Em cada olhar e gesto, o amor e a gratidão que sente pela mãe — que não mediu esforços para realizar os sonhos dos filhos — eram visíveis. “O papai não cobrava nada, a mamãe já era mais brava, exigia que estudássemos. Ela incentivou muito o meu pai a vir para cá para que o Eduardo fizesse medicina”, diz Ana.
Sentada no sofá de casa, Baeta revisita o passado ao olhar os álbuns de fotografias dos filhos pequenos, do marido — que faleceu há 30 anos — dos netos e bisnetos. Em cada uma delas, há memórias que ficaram marcados no coração da mineira, descrita por Gontijo como uma “mulher trabalhadora, mas também do lar”.
Veja mais fotos de Neusa com a família:
Segredo da longevidade
Chegar aos 102 anos com vitalidade não é para qualquer pessoa. De acordo com informações da assessoria de comunicação do IBGE, o último Censo revelou que o Distrito Federal conta 186 pessoas com 100 anos ou mais de idade.
Questionada sobre o segredo da longevidade com tanta saúde, Neusa não faz cerimônia: “É segredo até para eu mesma, mas a minha vida é normal, não tem nada de mais”, revela ao cair na gargalhada.
Entre os seus hábitos rotineiros está acordar entre 8h e 9h da manhã, fazer fisioterapia três vezes por semana e realizar palavras cruzadas, atividade que pratica há décadas. Além disso, ela gosta de assistir o programa Brasil Visto de Cima (TV Brasil), Domingão com Luciano Huck (Rede Globo) e, como uma boa brasileira, não perde as novelas, tramas pelas quais é “apaixonada”.
Na parte da alimentação, Baeta diz gostar de comida simples. O tradicional arroz com feijão, feijoada e bacalhau estão entre seus pratos favoritos. Nas guloseimas, ela não abre mão de doce de figo, goiabada, doce de leite e bombom de nozes.
“A mamãe ama comer feijoada. Ela só exagera no açúcar, ela adoça muito as coisas. O exercício dela sempre foi andar na residência arrumando a casa. Mesmo com empregada, ela organiza a cama dela, a mesa do café, leva as louças para a cozinha. No jardim, ela passeia de vez em quando para ver as flores e passarinhos”, expõe Gontijo, revelando que a mãe come de tudo, mas em pouca quantidade.
Mesmo sem saber ao certo como explicar o segredo de uma vida longa, a mineira aprendeu que é preciso levar tudo com muito leveza para ser feliz.
“Tudo eu acho bom, não sou uma pessoa que deseja demais isso ou aquilo. Receba com boa vontade o que a vida te oferecer, sem muita exigência. Nunca reclame do que não deu certo, porque o passado não tem como mudar. Vamos olhar para a frente e seguir”, aconselha.
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