O Supremo Tribunal Federal (STF) terá que recorrer ao endereço funcional do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) para conseguir intimá-lo em queixa-crime apresentada contra ele pela cantora Daniela Mercury. Em 13 de fevereiro, o ministro da Corte e relator do caso, Kassio Nunes Marques, deu 15 dias para o deputado federal se pronunciar. No entanto, desde então, a Justiça não consegue citá-lo.
Após diversas tentativas da Justiça de encontrar o deputado em casa, o Ministério Público Federal (MPF) foi consultado pelos advogados de defesa da cantora sobre a possibilidade dele ser citado na Câmara dos Deputados, onde trabalha, em Brasília.
A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, disse que não se opõe à tentativa de notificação na Casa Legislativa.
A tentativa de localizar Eduardo Bolsonaro é para que ele se pronuncie sobre vídeo postado, em abril de 2022, no qual é atribuída a voz da cantora a uma fala religiosa. Na gravação adulterada, a artista dizia que Jesus Cristo era “muito gay” e “muito bicha”.
“Cuidado! Cenas fortes. Efeitos colaterais da abstinência de Lei Rouanet. A que ponto a pessoa contaminada chega. Deus, tenha misericórdia deles, eles não sabem o que falam”, diz a legenda do vídeo, publicado por Eduardo em sua página. A postagem foi apagada pouco depois.
Leia despacho de Nunes Marques para intimação de Eduardo Bolsonaro:
Despacho Daniela Mercury by Manoela Alcântara on Scribd
Entenda
O vídeo distorcido e usado por Eduardo Bolsonaro foi gravado em um show em julho de 2018, em Garanhuns (PE). Na época, o governo de Pernambuco havia cancelado a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, onde Jesus era interpretado pela atriz transsexual Renata Carvalho e vivia nos dias atuais como uma travesti.
“Já que a gente está falando de amor, me choca profundamente que os políticos desse país censurem uma peça de teatro”, disse Daniela, na ocasião. “Jesus Cristo, eu estou aqui, eu sou gay, eu sou lésbica. E daí?”, completou.
Logo em seguida, Mercury cantou uma música de Renato Russo: “Meu amigo, Renato Russo, era gay, gay, muito gay, muito bicha, muito viado, sim”.
