Agente federal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Pedro Emerich está acompanhando a situação dos indígenas Yanomamis, em Roraima, e percebeu que alguns legumes doados aos povos eram ignorados. O motivo: não são nativos do Brasil.
A história curiosa foi compartilhada no Twitter pelo também agente do Ibama Wallace Lopes e viralizou nas redes sociais.
Confira:
Que história INCRÍVEL de um colega do Ibama:
"Durante um período na TI Yanomami, retirando os garimpeiros da área e doando os alimentos apreendidos para as comunidades indígenas, percebi que os legumes ninguém pegava". pic.twitter.com/RsqBK9DrH8
— AAF Wallace Lopes (@wallacerrlopes) February 9, 2023
Para apresentar os novos legumes como repolho roxo, cenoura e batata aos Yanomamis, o agente Emerich decidiu então realizar uma ação para ensinar como podem ser usados na culinária.
Apesar da batata, beterraba, repolho roxo, cenoura, tomate e alho estarem presentes no dia a dia dos brasileiros, eles não são originais do Brasil e, por isso, algumas comunidades originárias e isoladas não estão familiarizadas com eles.
"Após investigar, descobri que os Yanomamis não conheciam aqueles legumes (tão básicos para nós) e não sabiam a forma de consumo". pic.twitter.com/4yhbQTOwYW
— AAF Wallace Lopes (@wallacerrlopes) February 9, 2023
Pedro trabalha como analista ambiental do Ibama desde 2011 e durante operações de fiscalizações sobre o avanço dos garimpeiros os agentes do órgão acabam apreendendo todos os alimentos encontrados com eles.
“A gente faz uma doação para as comunidades ali, para as famílias. Você tem uma alta taxa de desnutrição ali nas comunidades por conta desses garimpos, onde eles deixaram de consumir uma série de alimentos”, contou o agente do Ibama.
“Percebi que durante essa doação, a gente sempre doava fardos de batatas que esses garimpeiros só andam com muitos alimentos. Então, quando eu percebi que toda vez que a gente faz uma doação dos alimentos, no outro dia tudo aquilo que era de legume acabava ficando ali do lado e ficou me chamando atenção e conversei com a liderança indígena”, acrescentou.
Pedro contou ao Metrópoles que aquela comunidade não tinha esse costume, não sabiam como preparar e por isso não comiam aqueles alimentos que eram doados pelos agentes do Ibama.
“Foi uma conversa interativa e eles estavam gostando bastante do bate-papo. Comecei a descansar, picar ali e dois três começaram a me imitar e fazer igual. Então, a gente foi cortando e deixando em cubinhos e depois fomos fazer uma sopa”, relata Pedro Emerich.
Pedro explicou também que muitos indígenas Yanomamis são acostumados com não indígenas e que não estava tentando mudar a alimentação deles, apenas apresentando novos legumes que poderiam ser introduzidos no seu cardápio.
“Não são indígenas isolados, são indígenas que já têm contato com o homem branco há algum tempo. Eles já tem, na sua cultura, alimentos inseridos que não fazem parte da cultura deles”, explicou.
Ação do governo federal na terra Yanomami
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou um grupo de trabalho para auxiliar na crise sanitária na qual os Yanomamis se encontram. A força-tarefa é composta pelos ministérios da Defesa, Direitos Humanos, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Saúde e outros representantes de apoio aos povos originários.
Em uma ação conjunta, a Funai, Ibama e a Força Nacional realizam ações dentro da terra indígena Yanomami para retirada de garimpeiros e proteção do território.
A presença do garimpo ilegal dentro da área protegida prejudicou a saúde da população. Com a extração de minério e a liberação de mercúrio nos rios e no solo, os indígenas foram contaminados pelo metal e perderam sua principal fonte de alimento.
