Governador da BA: Lula continua a falar de Bolsonaro porque 8/1 exige

Jerônimo Rodrigues disse, em entrevista ao Metrópoles, que o presidente Lula já desceu do palanque, mas “não dá para esquecer o dia 8”

atualizado 29/01/2023 9:02

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Foto colorida de Jeronimo Rodrigues - Metrópoles Wey Alves/Especial Metrópoles

Petista de carteirinha, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, garante: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já desceu do palanque e já dá sinais de diálogo com os opositores políticos. Segundo ele, as declarações críticas endereçadas por Lula ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda prosseguem porque os atos golpistas de 8 de janeiro assim exigem.

No segundo domingo do ano, bolsonaristas inconformados com o resultado eleitoral invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, causando prejuízos milionários aos cofres públicos. Na ótica de Rodrigues, os atos terroristas ocorreram porque Bolsonaro “cultivou o ódio nas pessoas”.

“A eleição terminou em outubro, no dia 30. Veio novembro, dezembro, a posse. Nós já havíamos começado em um ambiente de ‘desestressar’ a pauta política”, disse Jerônimo em entrevista ao Metrópoles na noite de sexta-feira (27/1), horas após a reunião do presidente com os chefes dos governos estaduais, em Brasília.

“Quando é dia 8 acontece o que aconteceu, manipulado por um ex-presidente que cultivou o ódio nas pessoas. Não dá para a gente esquecer o dia 8. Se não tivesse acontecido o dia 8, a gente não poderia esquecer o passado de quatro anos, mas não seria tão prejudicial para a gente”, prosseguiu o governador.

“Então, quem estiver sentindo qualquer situação de constrangimento por esse motivo, vai ter que continuar sentindo por um momento, porque a gente não resolveu essa situação”, concluiu. O governo federal e aliados defendem que as investigações cheguem aos financiadores dos atos de 8 de janeiro e que os envolvidos sejam devidamente responsabilizados.

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Jerônimo foi eleito em 30 de outubro de 2022 com 52% dos votos, derrotando o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil)
Ele saiu vitorioso da primeira disputa eleitoral da qual participou
Jerônimo Rodrigues concedeu entrevista ao Metrópoles na sede da representação do governo da Bahia em Brasília, na sexta-feira (27/1)
O baiano foi secretário estadual nos governos dos também petistas Jaques Wagner e Rui Costa
Ele também exerceu cargos de segundo escalão em Brasília no governo de Dilma Rousseff
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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT)

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Jerônimo foi eleito em 30 de outubro de 2022 com 52% dos votos, derrotando o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil)

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Ele saiu vitorioso da primeira disputa eleitoral da qual participou

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Jerônimo Rodrigues concedeu entrevista ao Metrópoles na sede da representação do governo da Bahia em Brasília, na sexta-feira (27/1)

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O baiano foi secretário estadual nos governos dos também petistas Jaques Wagner e Rui Costa

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Ele também exerceu cargos de segundo escalão em Brasília no governo de Dilma Rousseff

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É o primeiro governador autodeclarado indígena do Brasil

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Entrevista com o Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT)

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Reunião com governadores

Lula recebeu na última sexta, no Palácio do Planalto, os chefes dos 26 estados e do Distrito Federal. Na ocasião, ele recebeu propostas de obras e investimentos específicas de cada Unidade Federativa e outras compartilhadas pelas regiões do país.

A principal demanda levada pelo conjunto dos governadores foi a necessidade de recomposição das receitas que deixaram de ser arrecadadas com a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, determinada pela gestão anterior dentro de um contexto eleitoral.

Em resposta ao pleito, o governo Lula instituiu uma comissão, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para os governadores acompanharem a discussão da compensação do ICMS no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na reunião com Lula, o grupo ainda assinou a Carta de Brasília, documento que firma um pacto federativo pela democracia. A fim de fortalecer o diálogo entre estados, municípios e União, presidente e governadores também decidiram criar um Conselho da Federação, de caráter permanente, com o objetivo de “definir uma agenda permanente de diálogo e pactuação em torno de temas definidos como prioritários pelos entes federados”.

Governadores saudaram a iniciativa do petista de se reunir com todos os Executivos locais, depois de quatro anos em que Bolsonaro deu prioridade àqueles com que guardava afinidade ideológica. Ao chegar ao Planalto, o governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), adversário do PT, reconheceu a ação: “É importante saudar e destacar essa iniciativa de chamar os governadores. De fato, nos quatro anos passados não houve um chamamento aos governadores como está sendo feito agora. Isso tem que ser valorizado e destacado”.

“Sedento de diálogo”

Para Jerônimo Rodrigues, Lula sinaliza para uma união nacional: “A gente estava sedento de diálogo. O Brasil estava apartado. Tinha uma Presidência e os estados e os municípios largados. O Lula traz com essa iniciativa dele um compromisso de diálogo, de concertação de agenda”.

O aliado de Lula minimizou o constrangimento de sentarem à mesa com governadores tidos como bolsonaristas, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina.

“É claro que tem constrangimento, porque até dois, três meses atrás nós tínhamos um cenário de disputa eleitoral. O que o Lula está dizendo? ‘Nós já descemos do palanque. Já acabaram as eleições. O que a gente quer é um país unido, um país de paz. Nós vamos destruir o ódio’”.

O “climão” com Zema na reunião entre Lula e os governadores

Para o baiano, o movimento do presidente Lula “não é de perseguir ninguém”. “Quem está sentado ali, está entendendo que temos um pacto. As pessoas que foram contra o Lula e estão ali é porque o estado as elegeu. Então nós temos que respeitar a população daquele estado. E o Lula está fazendo isso.”

Filiado ao PT desde a década de 1990, Jerônimo Rodrigues assumiu secretarias nas gestões dos também petistas Jaques Wagner, hoje líder do governo no Senado, e Rui Costa, atual ministro da Casa Civil. Ele também assumiu cargos de segundo escalão em Brasília, durante o mandato de Dilma Rousseff. Ao ocupar o Palácio de Ondina, ele dá prosseguimento aos 16 anos em que o PT governa o estado.

Sem cavalo de pau

“São 16 anos de um projeto. A gente não pode dizer que vai dar um cavalo de pau e mudar, porque nós temos um alinhamento”, defendeu. E ponderou: “Nós não podemos fazer mais do mesmo constantemente. Não é um governo de continuismo, é de continuidade. Nesse aspecto, nós temos que inovar”. Em linha com o presidente da República, Rodrigues defendeu como marcas de sua gestão o combate à fome e a geração de emprego.

Em sua primeira eleição, o petista derrotou o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, do União Brasil, em uma disputa acirrada no segundo turno. Sobre a aproximação do governo federal com o partido de seu adversário, o governador baiano fez questão de separar as coisas.

“Quem está vindo é o União Brasil, e está vindo num cenário nacional. É o Lula que dirige isso. Não tem o que criticar, é movimento nacional. No estado, o União não vai sentar à mesa nossa [no governo da Bahia]”. O União Brasil tem três ministérios: o do Turismo, com Daniela Carneiro, o das Comunicações, com Juscelino Filho, e o da Integração e Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes (este último filiado ao PDT, mas da cota do União).

Governando um importante reduto petista, Jerônimo Rodrigues afirmou que agora é preciso “correr a Bahia de novo para poder garantir governabilidade” a Lula.

A Bahia será justamente o segundo estado a ser visitado por Lula no contexto de uma agenda nacional de entregas. O petista vai ao município de Santo Amaro no dia 14 de fevereiro, para entregar casas pelo restaurado programa Minha Casa Minha Vida.

Governador indígena

Jerônimo Rodrigues é o primeiro governador autodeclarado indígena. Ao frisar a responsabilidade, ele afirmou: “Você não pode ficar no discurso. Eu vou ter que trabalhar muito para fazer uma compensação. Agora como o Lula cria o Ministério dos Povos Originários, nós criamos lá [na Bahia] uma Superintendência com status de secretaria. E nós vamos fazer um alinhamento muito forte. Estamos aguardando o que o Lula vai oferecer de programa para esses povos”.

“Durante a campanha eu não coloquei aquilo para ser um elemento agregador de voto. Foi natural da minha autodeclaração”, afirmou. Em 2022, o opositor ACM Neto se autodeclarou pardo e gerou polêmica ao utilizar fotos em que aparecia com um tom de pele mais escuro.

Raio-x

Jerônimo Rodrigues tem 57 anos e é indígena do município de Aiquara, cidade localizada no sul da Bahia. Engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, ele é filiado ao PT desde a década de 90.

Na Bahia, foi secretário de Desenvolvimento Rural (2015-2019) e da Educação (2019-2022), ambos na gestão de Rui Costa. Também exerceu cargos federais em Brasília, tendo sido secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

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