Pernambucano espancado em Portugal narra momentos de terror: “Você é brasileiro?”

Saulo Jucá, de 51 anos, foi vítima de um ataque xenofóbico. Uma semana depois, ele ainda sente as sequelas da agressão

atualizado 17/06/2023 17:54

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Foto colorida de Saulo Jucá, vítima de ataque xenofobico em Portugal - Metrópoles Reprodução

O pernambucano Saulo Jucá, de 51 anos, ainda sente no rosto, no corpo e na mente, as dores do ataque xenofóbico que sofreu em Braga, no extremo norte de Portugal. Neste sábado (17/6), uma semana após a agressão, ele precisou voltar ao posto médico para verificar uma costela quebrada. “Estou sentindo muitas dores e tontura. Levei muito chute na cabeça, nas costas, nas costelas”, contou, ao Metrópoles. 

Natural de Recife, o engenheiro tem cidadania portuguesa e vive em território lusitano há dois anos. Nesse período, nunca havia sido alvo de xenofobia. Infelizmente, o pior aconteceu onde ele menos imaginava: na própria vizinhança. Saulo foi atacado por um homem dentro de uma cafeteria perto de casa. Com diversos hematomas no rosto, o nariz quebrado e outros ferimentos no corpo, ele tenta se recuperar do episódio, descrito como “terrível, tanto física quanto psicologicamente”.

O ataque ocorreu durante as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, feriado nacional. O brasileiro estava do lado de fora da cafeteria conversando com a namorada por videochamada quando notou a presença do agressor.

“Eu notei um movimento estranho do outro lado da rua. Tinha um homem visivelmente embriagado acompanhado da mãe, que não queria que ele bebesse, e dois amigos. Era o Dia de Portugal, e eu nem sabia disso. Vi o clima tenso e resolvi entrar no café”, relembra o brasileiro.

O engenheiro conversava com o dono do estabelecimento quando o homem entrou alterado na cafeteria. “Ele notou pelo meu sotaque que eu era brasileiro”, conta. O agressor, então, questionou a nacionalidade de Saulo e, quando confirmou que se tratava de um brasileiro, as agressões começaram.

“Ele não esperou nem que eu terminasse de responder. Veio para cima de mim sem eu esperar, sem chance de defesa.”

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O homem teria o agredido com chutes e soco no rosto e no corpo
Ele teve on nariz quebrado e suspeita de costelas quebradas
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Saulo foi atacado por um homem em Braga, Portugal

Arquivo Pessoal
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O homem teria o agredido com chutes e soco no rosto e no corpo

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Ele teve on nariz quebrado e suspeita de costelas quebradas

Arquivo Pessoal

Saulo não sabe exatamente como conseguiu se livrar do agressor, mas foi levado para o hospital em uma ambulância. Segundo ele, a polícia foi acionada, porém, quando os agentes chegaram, o criminoso não estava mais lá. “Eu passei quase 24 horas no hospital e, quando saí, fui prestar queixa. Agora, aguardo o posicionamento das autoridades”, diz.

O pernambuco precisou ser internado e permaneceu no hospital até a manhã desse domingo (11/6). Logo após a alta, Saulo se dirigiu até uma delegacia para registrar ocorrência contra o homem. O exame de corpo de delito foi realizado na segunda-feira (12/6).

Segurança de andar na rua

A motivação que o levou a deixar o lar no Brasil e ir morar em Portugal foi, justamente, a segurança. “Eu me mudei pra cá para ter tranquilidade em andar na rua, sem medo de ser assaltado. Sei que aqui se pode morar com tranquilidade”, explica. No entanto, ele ainda aguarda que o agressor seja responsabilizado.

“Foi terrível. Tanto fisicamente, quanto psicologicamente. E é algo que eu tenho batido muito na tecla: eu queria que o Itamaraty se pronunciasse, cobrasse do governo português, e eles não o fazem”, comenta. “Faz uma semana. Eu não procurei eles [consulado], eu não estou em condições de dirigir até lá, nem com cabeça. Mas gostaria de um posicionamento do governo”.

O ataque também causou um choque na família. “Minhas filhas choraram muito, meu irmão, minha mãe, estão todos aqui e muito preocupados”, lembra. Apesar de nunca ter sofrido uma agressão com viés xenofóbico antes, Saulo conta que relatos sobre isso são comuns, além de ataques verbais e casos de racismo.

“Eu conheço vários casos, muita gente fica com medo de falar. Mas eu não tenho medo, quero que isso seja resolvido e vou até o fim”, garante. “Eu nunca tive problema com a comunidade portuguesa, sei que isso é a minoria. Mas quem faz isso tem que pagar, tem que ter uma punição exemplar”, cobra. 

O deputado federal Tulio Gadêlha enviou um ofício ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), na quinta-feira (15/6), exigindo “ação imediata e acompanhamento do caso de agressão xenofóbica ocorrido em Braga”. Ele informou ao Metrópoles que o ofício está no gabinete do ministro Mauro Vieira, aguardando despacho.

“A agressão sofrida por nosso conterrâneo é inaceitável e demanda uma resposta firme por parte das autoridades”, defende o parlamentar. “Acompanharemos de perto o desenrolar do caso e continuaremos a pressionar por justiça. Nossa luta é por um mundo mais inclusivo, onde todos possam viver livres de discriminação e preconceito”.

O Metrópoles entrou em contato com a embaixada de Portugal e o Itamaraty, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.

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