Ipec: 8 em cada 10 brasileiros consideram o Brasil um país racista

Levantamento aponta também que a população brasileira considera que pessoas pretas são mais criminalizadas

atualizado 26/07/2023 17:22

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Foto colorida de mulher negra racismo - Metrópoles Igo Estrela/Metrópoles

Uma pesquisa feita pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) e divulgada nesta quinta-feira (27/7) mostra que 81% da população brasileira consideram o Brasil um país racista. O estudo “Percepções sobre o racismo no Brasil” foi encomendado pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta).

Segundo o levantamento, 60% das pessoas concordam totalmente que o Brasil é um país racista e outros 21% concordam em parte. Além disso, o estudo também aponta que 88% dos brasileiros consideram que a população negra é a mais criminalizada do que as indivíduos brancos.

A pesquisa ouviu 2 mil pessoas, de 127 municípios brasileiros espalhados pelas cinco regiões do país, durante todo o mês de abril de 2023. A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% da população brasileira se declara negra. No entanto, esse grupo ainda enfrenta grandes obstáculos para ocupar diferentes espaços.

O levantamento mostra ainda que 44% da população brasileira considera raça, cor e etnia como o principal fator responsável por gerar desigualdades no país. Em relação à abordagem policial, 79% consideram que ela é baseada na cor de pele, tipo de cabelo e vestimenta da pessoa.

“Esses dados escancaram o racismo no Brasil, e demonstram que a população em geral reconhece o racismo em uma das suas faces mais cruéis: a violência institucional, no caso específico, a policial. De forma prática, ela é reflexo do racismo que estrutura nossas instituições, da maneira como naturalizamos a violência contra as pessoas negras e as pessoas moradoras das periferias -cuja maioria é negra”, analisa Ana Paula Brandão, gestora do Projeto Seta e diretora programática na ActionAid.

Violência verbal

A pesquisa aponta também que 36% das pessoas convivem com indivíduos que têm atitudes racistas e 46% que convivem com pessoas que sofrem racismo. Este recorde mostra que a população brasileira identifica que o Brasil é racista, mas tem dificuldade para nomear o racismo em experiências pessoais.

“Por um lado existe uma dificuldade de identificar o racismo estrutural e, por outro lado, a dificuldade de identificar o racismo no universo privado pela pessoa respondente, ou seja, no cotidiano das escolas, do trabalho, das famílias e outros espaços de convivência. É possível relacionar o cenário com o baixo percentual de pessoas que aprenderam sobre o racismo nas escolas de forma adequada”, destaca Jaqueline Santos, consultora de monitoramento e avaliação do Projeto Seta.

Segundo o estudo, a principal forma de identificar uma manifestação racista pela população brasileira é pela violência verbal, como xingamentos e ofensas (66%), seguida de tratamento desigual (42%) e violência física, como agressões (39%).

“O movimento negro denuncia há décadas o mito de que a democracia é igual para todos no Brasil, principalmente para jovens entre 16 e 24 anos, faixa etária mais impactada pelo racismo. O próximo passo é avançar na qualificação deste debate, pois, como já dizia Lélia Gonzalez, o racismo no Brasil é profundamente disfarçado”, afirma Márcio Black, coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum.

10 imagens
Crime imprescritível é aquele que não prescreve, ou seja, que será julgado independentemente do tempo em que ocorreu. No caso do racismo, a Constituição Federal de 1988 determina que, além de ser imprescritível, é inafiançável
O racismo está previsto na Lei 7.716/1989 e ocorre quando pessoas de um determinado grupo são discriminadas de uma forma geral. A pena prevista é de até 5 anos de reclusão
Segundo o advogado Newton Valeriano, “quando uma pessoa dona de um estabelecimento coloca uma placa informando "aqui não entra negro, ou não entra judeu", essa pessoa está cometendo discriminação contra todo um grupo e, dessa forma, responderá pela Lei do Racismo”
Ainda segundo o especialista, “no caso da injúria racial, prevista no Código Penal, a pena é reclusão de 1 a 3 anos, mais multa. Nesses casos, estão ofensas direcionadas a uma pessoa devido à cor e raça. Chamar uma pessoa de macaco, por exemplo, se enquadra neste crime”
Em situações como intolerância racial e religiosa, a vítima deve procurar as autoridades e narrar a situação. “Se o caso tiver sido filmado, é importante levar as imagens. Se não, a presença de uma testemunha é importante”, afirmou Valeriano
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No Brasil, os termos racismo e injúria racial são utilizados para explicar crimes relacionados à intolerância contra raças. Apenas o primeiro é considerado imprescritível

Ilya Sereda / EyeEm
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Crime imprescritível é aquele que não prescreve, ou seja, que será julgado independentemente do tempo em que ocorreu. No caso do racismo, a Constituição Federal de 1988 determina que, além de ser imprescritível, é inafiançável

Xavier Lorenzo
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O racismo está previsto na Lei 7.716/1989 e ocorre quando pessoas de um determinado grupo são discriminadas de uma forma geral. A pena prevista é de até 5 anos de reclusão

Vladimir Vladimirov
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Segundo o advogado Newton Valeriano, “quando uma pessoa dona de um estabelecimento coloca uma placa informando "aqui não entra negro, ou não entra judeu", essa pessoa está cometendo discriminação contra todo um grupo e, dessa forma, responderá pela Lei do Racismo”

Dimitri Otis
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Ainda segundo o especialista, “no caso da injúria racial, prevista no Código Penal, a pena é reclusão de 1 a 3 anos, mais multa. Nesses casos, estão ofensas direcionadas a uma pessoa devido à cor e raça. Chamar uma pessoa de macaco, por exemplo, se enquadra neste crime”

Aja Koska
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Em situações como intolerância racial e religiosa, a vítima deve procurar as autoridades e narrar a situação. “Se o caso tiver sido filmado, é importante levar as imagens. Se não, a presença de uma testemunha é importante”, afirmou Valeriano

FilippoBacci
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No caso do racismo, qualquer pessoa pode denunciar, independentemente de ter ou não sofrido a situação. Para isso, basta procurar uma delegacia e relatar o caso. Se for de injúria racial, no entanto, é necessário que a vítima procure pessoalmente as autoridades

LordHenriVoton
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Além disso, a vítima também pode pedir uma reparação de danos morais na Justiça

LumiNola
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Recentemente, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o crime de injúria racial é uma espécie de racismo e, portanto, é imprescritível. Os ministros chegaram ao posicionamento após analisarem o caso de uma idosa que chamou uma frentista de “negrinha nojenta, ignorante e atrevida”

Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Plenário do Senado Federal

Waldemir Barreto/Agência Senado

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