Gigante ucraniana Antonov sonda o Brasil para produzir aviões

Enquanto Lula se colocava num imbróglio diplomático, representantes da empresa estiveram em São Paulo para avaliar interesse no país

atualizado 25/04/2023 11:25

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Antonov pousa no Aeroporto de Brasília Felipe Menezes/Aeroporto de Brasília

A gigante ucraniana Antonov habita o imaginário dos amantes da aviação. A empresa estatal, que surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, sob o regime da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), é um ícone para o setor e para a Ucrânia com seus aviões de grande porte, como o AN 225, a maior aeronave do mundo, destruída há um ano por ataques russos.

Agora, em meio à guerra que se estende há 14 meses no leste europeu, os ucranianos tentam salvar a Antonov dos ataques do inimigo. E um dos destinos desejados é o Brasil, governado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que há poucos dias gerou um embaraço diplomático ao nivelar a Rússia e a Ucrânia no conflito bélico.

Enquanto Lula partia para um giro pela Ásia e Europa no último dia 11, representantes da empresa estatal de aviação Antonov sentaram com Lucas Ferraz, secretário de Negócios Internacionais do Governo de São Paulo, para explicar o interesse da companhia ucraniana no Brasil.

O plano seria investir US$ 50 bilhões em cinco anos, para construir uma fábrica de 70 mil metros quadrados e produzir aeronaves comerciais.

Segundo fontes ligadas à empresa ouvidas pelo Metrópoles, a Antonov solicitou uma carta-convite para oficializar uma possível aproximação do Brasil. Uma nova reunião virtual seria agendada com executivos na Ucrânia para conhecer detalhes do plano de negócios da empresa para o Estado.

A empresa esperava os próximos passos da conversa com o governo de São Paulo, quando veio o mal-estar envolvendo o presidente Lula. Em giro pela Ásia no último dia 15/4, o mandatário foi questionado por jornalistas sobre a situação da Ucrânia. O presidente defendeu um plano de paz para a região, porém, usou um tom que pesou na comunidade internacional.

“O presidente [Vladimir] Putin não toma a iniciativa de parar [a guerra]. [O presidente ucraniano, Volodymyr] Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: ‘basta’”, disse.

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O avião trouxe trouxe 50 toneladas de equipamentos industriais de grandes dimensões
O avião Antonov An-225 Mriya foi destruído pela Rússia na guerra com a Ucrânia
Ministro das Relações Exteriores lamenta destruição do Antonov AN-225
O ataque aconteceu em março de 2022
Antonov AN-225
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O cargueiro Antonov 124-100 pousou no Aeroporto de Brasília durante a crise da Covid-19

Felipe Menezes/Aeroporto de Brasília
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O avião trouxe trouxe 50 toneladas de equipamentos industriais de grandes dimensões

Felipe Menezes/Aeroporto de Brasília
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O avião Antonov An-225 Mriya foi destruído pela Rússia na guerra com a Ucrânia

Maxym Marusenko/NurPhoto via Getty Images
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Ministro das Relações Exteriores lamenta destruição do Antonov AN-225

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O ataque aconteceu em março de 2022

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Antonov AN-225

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Pedaços destruídos do avião Antonov An-225 Mriya

Maxym Marusenko/NurPhoto via Getty Images
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Antonov AN-225

Reprodução/Redes Sociais

Lula ainda afirmou que a “decisão pelo conflito foi tomada por dois países”, desconsiderando que os russos invadiram o território ucraniano em fevereiro do ano passado sob o argumento de retomar territórios, e a Ucrânia precisou se defender.

As falas do presidente da República foram uma bomba no noticiário internacional, que criticou o presidente brasileiro por amplificar a narrativa russa. A saia justa ficou completa com a visita do chanceler russo Sergey Lavrov ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no dia 17. Lavrov afirmou que Brasil e Rússia têm “visões alinhadas” sobre os acontecimentos, o que deixou Lula em situação ainda mais desconfortável.

Indefinição

A Antonov, por outro lado, ficou na incômoda posição de buscar portas abertas no Brasil, tido pelos ucranianos como um país neutro, enquanto dribla o incidente diplomático. A empresa espera uma posição mais clara, seja de autoridades de Brasília ou do estado de São Paulo, para formalizar uma eventual cooperação bilateral.

O governo federal, no entanto, ainda não tinha informações oficiais a respeito do interesse da Antonov no Brasil. Interlocutores do governo Lula dizem que um projeto dessa natureza merecia tapete vermelho. Mas por ora, a conversa da Antonov está restrita ao governo de São Paulo.

O secretário de negócios internacionais do Estado, Lucas Ferraz, foi procurado pela reportagem, mas não respondeu ainda ao pedido de entrevista.

Maior avião do mundo

A Antonov já havia tentado se aproximar do governo do Paraná, onde há uma grande comunidade ucraniana, sem sucesso. A empresa ganhou fama mundial nos anos 1980 quando construiu o AN 225, o maior avião do mundo, fabricado dentro do programa espacial da URSS, para transportar o ônibus Buran, e o propulsor de foguetes Energia. A aeronave tornou-se um ícone do desempenho soviético e depois ucraniano.

Sendo parte do orgulho e da identidade daquele país, a destruição da aeronave no ano passado pelos russos foi notícia no mundo inteiro.

Agora, o governo Lula tem um nó para desatar com os ucranianos. “O interesse da Antonov neste momento acaba se tornando não só um assunto de investimentos, mas um caso de política externa, diante de um momento muito polarizado”, avalia o professor de Relações Internacionais, Oliver Stuenkel.

Se conseguir aparar as arestas, acredita Stuenkel, Lula pode ter uma oportunidade interessante de distensionar o ambiente com os ucranianos, ao mesmo tempo em que faz um gesto importante com frutos para a economia.

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