Ao discutir soluções para frear a degradação ambiental na Amazônia brasileira, o economista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro Juliano Assunção afirmou que o Brasil deveria incluir a Amazônia no mercado de carbono, cobrando de países e empresas interessadas em compensar as suas emissões.
A questão foi abordada durante o TEDx Amazônia, evento realizado nos últimos dias 2, 3 e 4 de novembro em Manaus, Amazonas. Na ocasião, discutiu-se a situação do bioma, com a participação de pesquisadores, líderes indígenas e demais comunidades que vivem da floresta.
Assunção é diretor-executivo da organização Climate Policy Initiative, grupo de pesquisa sem fins lucrativos que diz atuar para ajudar governos, empresas e instituições financeiras e crescer economicamente levando em consideração as alterações climáticas.
No último sábado (4/11), ele ressaltou que a Amazônia tem ido na contramão do processo de redução de emissão de carbono na atmosfera. Com o aumento de desmatamento e queimadas, a região tem lançado, segundo ele, mais de 1 bilhão de tonelada de carbono por ano.
“Mas não precisa ser assim. A floresta tem uma capacidade extraordinária de absorção e estocagem de carbono. Uma área típica na Amazônia, que já foi desmatada e está em processo de regeneração, tem capacidade de capturar 500 toneladas de carbono por hectare”, afirmou.
Carbono “sequestrado”
Nesse contexto, segundo ele, é importante refletir sobre o que aconteceria se o mundo começasse a pagar pelo carbono capturado pela Amazônia. No Brasil, o bioma está presente em nove estados e, conforme Assunção, a medida seria muito mais eficiente do que abrir mais espaço para agropecuária.
Segundo ele, quando se expande a pecuária, há um processo de emissão de CO2 por conta do desmatamento. “Mas quando a gente recua a pecuária e deixa a floresta regenerar, há um processo de captura de carbono”, explicou.
Assim, se o foco passar a ser regenerar a floresta e cobrar por carbono “sequestrado”, Assunção avalia que o Brasil seria muito melhor remunerado.
O valor, conforme o professor, seria de no mínimo US$ 20 por tonelada de CO2, o que já seria lucrativo. Na Europa, a quantia já chega a US$ 90, o que significa que a cobrança poderá ser ainda maior.
“Esse serviço seria para um fundo que iria financiar os entes do governo que estariam a serviço de duas coisas básicas: primeiro, de controlar e combater o desmatamento; e segundo, de promover esse restauro florestal”, pontuou.
O professor calcula que com a mudança, em 30 anos o bioma amazônico poderia capturar 16 bilhões de toneladas de carbono, o que representaria, no mínimo, US$ 320 bilhões de receita.
“A Amazônia deixaria de ser um problema e passaria a ser parte da solução. A gente estaria alinhando a agenda climática com a agenda da Amazônia de maneira muito consistente”, frisou.
Segundo ele, se a decisão fosse tomada nesse sentido, em 30 anos a visão econômica da Amazônia também mudaria.
“Grande parte da atividade econômica estaria nos centros urbanos, que já abrigam quase três quartos da população. A agropecuária estaria restrita às áreas nas quais a aptidão é realmente grande o suficiente, onde faz sentido, e no restante da floresta a gente teria atividades econômicas que convivem de maneira harmônica”, explicou.
A repórter viajou para o TEDx Amazônia a convite do Mercado Livre.