Pequenas e
grandes tragédias
O trecho da DF-326 que deveria estar pavimentado é parte de um pacote de obras previsto em um contrato com valor inicial de R$ 7,9 milhões assinado pela Codevasf em 2021. O plano era asfaltar estradas rurais por onde trafegam ônibus escolares que atendem comunidades como aquela onde vive a família de Jullya, a menina do início desta reportagem. Placas chegaram a ser instaladas ao longo da pista anunciando a data para a conclusão do serviço, que nunca foi entregue.
Crianças da região do Lobeiral, a cerca de 30 quilômetros do centro de Brasília: saúde afetada pela poeira. Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
Para além dos problemas de saúde causados pela exposição à poeira, o trecho é também marcado pela tragédia. Em maio deste ano, o trabalhador rural Antônio Nogueira da Silva, 48 anos, morreu em um acidente na via, perto da comunidade Lobeiral, onde morava. Familiares contam que a moto que ele conduzia derrapou no cascalho. Na queda, Antônio teve traumatismo craniano. Ele deixou a mulher, Maria da Graça Conceição, e dois filhos. “A gente se sente sem rumo”, lamenta a viúva. “Quanto a ele, não podemos fazer mais nada, mas nós que ainda estamos aqui precisamos dessa estrada. Nossos governantes precisam parar de conversa e cumprir o que prometem”, emenda.
O acidente aconteceu justamente em uma parte da estrada que, pela previsão inicial da Codevasf, já deveria estar pavimentada.
O Metrópoles esteve no local três vezes. A primeira foi no dia 7 de junho, de manhã e à tarde. Não havia um operário sequer trabalhando na obra. As placas antigas instaladas quando o serviço começou a ser feito davam a medida do atraso: a pavimentação deveria ter sido concluída um ano antes, em julho de 2022.
A visita dos repórteres – e as seguidas perguntas à Codevasf sobre os motivos da interrupção da obra – parecem ter surtido efeito. Uma semana depois, o cenário havia mudado: as máquinas voltaram à pista e outras placas foram instaladas, com uma nova data para a conclusão da obra: fim de 2023.
Nada, porém, que fosse duradouro. Quarenta e sete dias depois, a reportagem voltou para ver o que havia sido feito. Estava tudo parado novamente. Apenas uma camada de brita fora despejada e as máquinas já não estavam mais na pista. O único sinal de que ali deveria existir uma obra em andamento era um caminhão-pipa molhando o chão batido.