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Conheça diferentes tipos de investimento e não perca seu dinheiro

Especialistas explicam as diferentes formas de investimentos financeiros que garantem rentabilidade maior no médio e longo prazo

atualizado 06/06/2023 9:35

Comece Investindo 2023

Diz o ditado: não bote todos os seus ovos em uma mesma cesta, pois, se ela cair, corre o risco de todos quebrarem. Essa analogia se aplica quando se fala em investimentos; por isso, é necessário diversificá-los – o que significa, basicamente, investir em múltiplos lugares.

A educação financeira ainda é um desafio na cultura brasileira. Tanto é que 61% dos brasileiros não conhecem ou não investem em qualquer produto financeiro, segundo o Raio X do Investidor Brasileiro realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Ainda de acordo com o estudo, cerca de 25% de investidores no país, quase 50 milhões de pessoas, aplicam recursos em poupança. Se você for um deles, é melhor repensar sua vida financeira, pois é possível que esteja desperdiçando retornos mais atrativos e correndo o risco de perder dinheiro para a inflação.

A principal vantagem da diversificação financeira é reduzir os riscos das suas aplicações e garantir uma boa rentabilidade a médio e longo prazo.

Você pode diversificar dentro de apenas uma categoria de investimentos (renda fixa ou renda variável), mas também pode alocar o seu patrimônio nos dois grupos.

Antes de diversificar, porém, é muito importante ter uma reserva de emergência sólida, investida em algum lugar com liquidez rápida – como um CDB de liquidez diária, pagando, no mínimo, 100% do CDI – ou no Tesouro Direto.

Feito isso, vamos explicar outras formas de investimentos que são menos conhecidas pelo público e que garantem uma rentabilidade maior a médio e longo prazo. Estamos falando de investir em precatórios, Letras de Câmbio (LC), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito Agrícola (LCA).

Você já ouviu falar em precatórios?

Os precatórios estão dentro da classe dos ativos alternativos e chamam a atenção dos investidores que já têm suas reservas e possuem um montante sobrando. É para quem tem apetite por risco.

Trata-se de dívidas que o governo federal, estadual ou municipal possui com pessoas físicas e empresas, e cujo pagamento já foi determinado por uma decisão judicial definitiva. Esse recurso é utilizado, geralmente, em caso de não cumprimento com pagamento de pensões, salários e aposentadorias, por exemplo. Vale ressaltar que o precatório não é o pagamento da dívida, mas o reconhecimento de que ela existe.

A venda de precatórios é autorizada pelo § 13 do artigo 100 da Constituição Federal, e qualquer pessoa, jurídica ou física, pode adquiri-los. O tema ganhou destaque em 2021 por causa de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que alterava o regime de pagamento das dívidas federais; a iniciativa fez com que muitas pessoas quisessem vender os seus precatórios, o que levou a uma baixa dos preços desses ativos.

Esse tipo de investimento é considerado híbrido, ou seja, é uma mistura de renda variável com renda fixa. Isso porque, por conta da provável demora do pagamento, alguns credores vendem seus títulos no meio do caminho, recebendo o valor à vista — por meio dos investidores —, com descontos entre 30% e 50%, em vez de esperar pelo pagamento integral do governo. Quem fica em domínio desses títulos, por sua vez, tem o direito de receber o valor original ajustado com juros e correção monetária.

Com a negociação acrescida da correção, esses valores podem chegar a ter 20% a 30% de rentabilidade ao ano — bem mais que a taxa Selic atual e os títulos do Tesouro Prefixados. Se o investidor tiver paciência e puder esperar pelo pagamento, é um investimento que pode valer muito a pena.

Existem duas formas de investir em precatórios: diretamente com o detentor da dívida, ou por meio de instituições especializadas.

Assim como os títulos do Tesouro Direto, os precatórios são emitidos e pagos pelo governo e, portanto, constituem um investimento seguro. Por serem negociados diretamente com os credores, trazem a vantagem de ter possível rentabilidade acima dos títulos de dívida pública.

Além dessas estratégias, é possível investir em fundos de precatórios, que são gerenciados por especialistas e oferecem maior diversificação e gestão de risco. Inclusive, a possibilidade de investir em empresas que atuam na compra e venda desses créditos abre portas para oportunidades exclusivas, contando com a maior expertise no mercado.

No entanto, é importante avaliar cuidadosamente as taxas cobradas por esses fundos e as informações sobre as empresas, como a reputação e o histórico de sucesso dos gestores.

Antigamente, era muito mais difícil investir em precatórios, pois demandava um capital inicial muito grande. Hoje, já é possível comprar cotas de precatórios a partir de R$ 4.500.

Economista do canal de finanças Econoweek, Yolanda Fordelone alerta para o risco de pendências no processo, complicações fiscais (dívida do credor) ou até mesmo uma mudança na legislação do país. Todas essas variáveis podem impactar o recebimento dos valores pelo governo.

Quando há uma compra do crédito, o antigo dono passa a não ter mais obrigações com o título, e a pessoa que comprou passa a assumir a espera nessa fila de pagamentos, sujeita ainda a eventuais problemas vinculados ao processo. “A maior desvantagem dos precatórios está na possibilidade de adiamento dos prazos de pagamento, já que não existe a possibilidade de não receber o crédito”, diz Fordelone.

Já Mauro Kalil, educador financeiro e criador da Academia do Dinheiro, considera que essa estratégia pode ser muito rentável, mas “seu recebimento é incerto pela morosidade da Justiça e por eventual ausência de garantias reais que cubram as dívidas de pessoas e empresas e estas possam ser executadas”.

Professor de finanças da FGV/SP, Fabio Gallo ressalta também que existem diversos detalhes jurídicos que hierarquizam o pagamento desses ativos pelo governo; como exemplo, pessoas com mais de 60 anos que recebem na frente. “Assim, os precatórios tratam-se de ativos financeiros que exigem um alto grau de conhecimento por parte do investidor”, recomenda.

Letra de câmbio (LC)

Uma letra de câmbio é um título de crédito emitido por instituições como financeiras e cooperativas de crédito, para captar recursos junto aos investidores. É uma forma de captação de recursos similar aos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos pelos bancos.

Ao investir em uma letra de câmbio, o investidor empresta dinheiro para a instituição financeira e, em troca, recebe uma remuneração pré-acordada. A rentabilidade pode ser prefixada, pós-fixada ou atrelada a determinado índice financeiro. É importante verificar a solidez da instituição emissora e entender os riscos associados a esse investimento, como a possibilidade de inadimplência da instituição.

Vejamos um exemplo: alguém compra um bem durável – como um computador – e financia essa operação. Quando isso ocorre, uma financiadora cede o crédito e demanda que seja emitida, como garantia da operação, uma Letra de Câmbio. O emissor é o cliente tomador de crédito. A financiadora, por sua vez, é a instituição que aceita e vende o crédito a um investidor, justamente para que possa capitalizar-se e continuar emprestando recursos.

Gallo ressalta: “Trata-se de títulos utilizados pelas financeiras como principal fonte de recursos para financiar bens duráveis – Crédito Direto ao Consumidor ou CDC”.

Para Calil, a vantagem da LC “é que tem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O que é bom. Ao comprar esse investimento, é como se você emprestasse dinheiro para a financeira que emitiu o título e, em troca, vai receber o valor acrescido de juros e correção monetária”.

Já a economista Yolanda Fordelone afirma que o investidor precisa pôr na ponta do lápis e comparar os investimentos. “A LC (emitida por financeiras) é um investimento muito parecido com o CDB (emitido por bancos). Tem todas as características: pode ser pós, pré, pode ser ligado à IPCA… A única diferença é quem emite”, constata. “Nem sempre você vai encontrar melhores rentabilidades, e as LCs ainda pagam imposto de renda”, avalia.

Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs)

As LCIs e LCAs são títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras, com o objetivo de captar recursos para financiar setores específicos da economia, como o mercado imobiliário (LCIs) e o agronegócio (LCAs). Esses títulos são lastreados por operações de crédito realizadas no setor correspondente.

Uma das principais características das LCIs e LCAs é a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas. Além disso, a depender do tipo de investimento, é possível contar com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em caso de insolvência da instituição financeira emissora.

Para investir em LCIs e LCAs, basta procurar uma instituição financeira que as emita; por exemplo: o Banco do Brasil é um grande emissor de LCAs, já que o DNA da instituição é o agronegócio. É importante verificar as condições de prazo, rentabilidade e liquidez oferecidas, assim como avaliar a solidez da instituição emissora e também entender os riscos associados ao setor econômico relacionado ao título (imobiliário e agronegócio).

A LCI tem remuneração pela taxa prefixada, flutuante, TR, TJLP e pode ser emitida pelas seguintes instituições: banco comercial; banco múltiplo com carteira de crédito imobiliário; sociedades de crédito imobiliário (associações de poupança e empréstimo e companhias hipotecárias).

As LCAs são de emissão exclusiva de instituições financeiras.

De acordo com o professor Fabio Gallo, por meio dessa relação, as melhores oportunidades para o investidor iniciante estão nas LCI e LCA, que, além de serem ofertadas com retornos interessantes, não têm risco de crédito até R$ 250 mil garantido pelo FGC e são isentas de IR.

A economista do Econoweek concorda e diz que, se fosse para escolher apenas um investimento, iria de LCI ou LCA que rendesse o IPCA mais juro fixo. “Nesse tipo de remuneração, o imposto de renda só incide sobre o juro real. A inflação não conta como ganho financeiro”, explica. “Em CDBs e nos títulos do Tesouro, o imposto incide no total. A longo prazo, isso faz muita diferença. Quando se compra um Tesouro direto atrelado à inflação, vai ter o desconto do imposto no total e, se a inflação explodir, for de 10 ou 15%, o imposto incide nesse percentual dela também”, exemplifica.

Já Mauro Calil diz que a escolha entre esses investimentos pode depender das preferências pessoais do investidor e dos produtos oferecidos pelas instituições financeiras. “É recomendado avaliar as condições específicas de cada investimento e comparar taxas e prazos oferecidos, antes de tomar uma decisão”, recomenda.

Tome nota dos principais pontos a serem considerados para escolher o seu investimento

Precatórios
  • Pesquisa e análise: realize uma pesquisa detalhada sobre o precatório em que você deseja investir. Verifique informações sobre o processo judicial, a entidade devedora, o valor do precatório e o histórico de pagamentos da entidade.
  • Risco de crédito: avalie o risco de crédito da entidade devedora. Verifique sua situação financeira, a capacidade de pagamento e a reputação em relação ao cumprimento de suas obrigações.
  • Valor nominal: considere o valor nominal do precatório. Quanto maior o valor, maior será o potencial de retorno. No entanto, precatórios de valor muito alto podem ter menor liquidez; o deságio é o desconto aplicado sobre o valor do precatório no momento da compra. Negocie o deságio para maximizar seu potencial de retorno.
  • Liquidez: avalie a liquidez do mercado de precatórios. Nem todos os precatórios têm mercado ativo e podem levar tempo para serem vendidos.
  • Prazo de pagamento: verifique o prazo estimado de pagamento do precatório. Alguns podem ser pagos em curto prazo, enquanto outros podem levar anos.
  • Custos envolvidos: considere os custos envolvidos na compra e venda de precatórios, como taxas de corretagem, impostos e custódia.
  • Diversificação: como em qualquer investimento, diversificar é importante. Considere investir em diferentes tipos de precatórios e espalhar seus investimentos em várias entidades devedoras, para mitigar o risco.
  • Assessoria jurídica: é recomendável contar com a ajuda de um advogado especializado em precatórios para orientá-lo durante o processo de investimento e garantir que você esteja ciente de todos os aspectos legais envolvidos.
  • Paciência: investir em precatórios pode exigir paciência, já que os prazos de pagamento podem ser prolongados. Esteja preparado para esperar pelo retorno do investimento.

É importante ressaltar que investir em precatórios envolve riscos e pode não ser adequado para todos os investidores. Certifique-se de compreender completamente os riscos envolvidos e busque aconselhamento profissional antes de tomar qualquer decisão de investimento.

Letra de Câmbio (LC)
  • Avalie a solidez da instituição emissora: verifique a reputação, credibilidade e situação financeira da instituição que emite as letras de câmbio. Isso ajudará a mitigar o risco de default ou atraso nos pagamentos.
  • Analise as taxas de juros oferecidas: compare as taxas de juros oferecidas pelas diferentes instituições emissoras. Observe também se existem custos adicionais, como taxas de administração ou custódia, que podem afetar a rentabilidade do investimento.
  • Prazo e liquidez: considere o prazo de vencimento da letra de câmbio e a sua necessidade de liquidez. Algumas letras de câmbio possuem prazos mais longos, o que pode dificultar o resgate antecipado do investimento.
  • Diversificação: é recomendado diversificar seus investimentos, inclusive em letras de câmbio, para reduzir o risco. Considere investir em diferentes emissores e prazos de vencimento.

É importante ressaltar que investir em letras de câmbio envolve riscos. É essencial buscar informações detalhadas sobre o investimento, ler atentamente o prospecto ou contrato de emissão e, se necessário, contar com o auxílio de um profissional de investimentos para tomar decisões adequadas ao seu perfil e objetivos financeiros.

Letra de Crédito Imobiliário (LCI)
  • Isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.
  • Podem ter prazos de vencimento variados.
  • Podem ter rentabilidade pré-fixada ou pós-fixada, geralmente atrelada a indicadores como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) ou a taxa Selic.
  • Garantidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira.
Letra de Crédito Agrícola (LCA)
  • Isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.
  • Podem ter prazos de vencimento variados.
  • Podem ter rentabilidade pré-fixada ou pós-fixada, geralmente atrelada a indicadores como o CDI ou a taxa Selic.
  • Garantidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira.

Tanto as LCIs quanto as LCAs são consideradas investimentos de baixo risco, devido à garantia do FGC e à isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas. No entanto, é importante avaliar as condições oferecidas por cada instituição financeira, como taxas de remuneração, prazos e liquidez, antes de investir.