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COP28: indústria protagoniza debates sobre descarbonização da economia

Com um estande próprio, CNI reuniu mais de 100 empresários, políticos e especialistas para discutir melhores práticas ambientais no setor

atualizado 22/12/2023 15:54

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) teve um papel importante no principal evento ambiental do mundo. Durante a participação na 28º edição da Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (COP28), que ocorreu em Dubai, a CNI mostrou a potência da indústria brasileira para reduzir os efeitos do aquecimento global. 

Ao longo de duas semanas, empresários, representantes do setor e autoridades do governo brasileiro debateram, junto a outros países soluções e medidas para minimizar os impactos ambientais do setor. O Brasil assumiu o compromisso de reduzir as emissões em 48% até 2025 e em 53% até 2030.

Esse compromisso, chamado de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), assim como os das demais nações foram avaliados na COP28 no primeiro Balanço Global, o Global Stocktake (GST), uma ferramenta estratégica prevista pelo Acordo de Paris para acompanhar e mensurar o progresso dos quase 200 países-membros da Conferência das Partes (COP) no cumprimento das metas estabelecidas pelo tratado.

“No Brasil, a NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada] ainda não tem sido acompanhada de um plano estratégico. O setor privado precisa participar ativamente desses debates, pois a disponibilidade de recursos e os financiamentos internacionais são indispensáveis para ampliarmos os investimentos em tecnologias sustentáveis.”

Ricardo Alban, presidente da CNI

Pela primeira vez em uma COP, o documento final, que compreende as decisões do evento, pediu a redução no uso de combustíveis fósseis a partir da transição energética e ressaltou a importância do desenvolvimento de tecnologias para os setores da economia que mais enfrentam dificuldades para mitigar suas emissões de GEE. Não só isso, reconheceu ainda que países devem se comprometer em triplicar a capacidade energética renovável e dobrar a eficiência energética média até 2030.

Transição energética

De acordo com a CNI, o Brasil conta com uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com mais de 87% de fontes renováveis. Segundo levantamento da confederação, a maior parte dos setores industriais tem potencial de mitigação de emissões de gás do efeito estufa a médio e longo prazos. 

Os setores de cimento e siderúrgico são os mais intensivos em carbono e, somados, poderiam chegar a 499 milhões de toneladas de CO2 acumulados até 2050, seguidos pelos setores químico e alumínio.

Outra área com potencial para essa mudança é a de aviação. Responsável por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa, o transporte aéreo está no grupo considerado mais difícil de fazer a transição energética. Apesar disso, a substituição do querosene fóssil pelo chamado SAF (sigla em inglês para combustíveis sustentáveis de aviação) foi identificada pelas empresas como estratégia fundamental para reduzir as emissões de CO2.

A trajetória de sucesso do Brasil na produção de biocombustíveis coloca o país como um promissor concorrente no mercado de SAF, combustível feito a partir de, por exemplo, milho ou óleo de cozinha.

Adaptação climática  

Essa COP também tornou mais tangível os incentivos aos Planos Nacionais de Adaptação à Mudança de Clima, viabilizando assim uma oportunidade para o Brasil discutir a agenda e ter a possibilidade de acessar o financiamento climático. 

Para a CNI, a internalização dos riscos climáticos tem sido cada vez mais relevante no planejamento estratégico das empresas. Isso porque essas alterações podem implicar impactos negativos, incluindo: 

  • danos a infraestruturas e equipamentos.
  • interrupção parcial ou total da operação industrial.
  • impactos no fornecimento de energia elétrica; redução ou interrupção do fornecimento de matérias-primas. 
  • comprometimento da saúde dos colaboradores. 
  • redução da disponibilidade e da qualidade da água.

A CNI considera importante o setor empresarial conhecer e gerir as oportunidades e os riscos que os eventos climáticos extremos podem acarretar aos negócios. Fazendo-se necessária a criação de uma estratégia nacional de adaptação para definir as melhores soluções de enfrentamento no país, além das necessidades de financiamento climático.

Fundos 

Ao abordar iniciativas sustentáveis, a CNI tocou em um assunto pertinente: o financiamento climático. A COP28 começou surpreendendo com um grande acordo – nunca alcançado em um primeiro dia da cúpula – no qual os países-membros concordaram em operacionalizar um fundo, criado na COP27, no Egito, para compensar os países mais vulneráveis que enfrentam os efeitos da crise climática em curso.  

O Fundo de Perdas e Danos, como é chamado, deve começar a atuar em 2024 e prevê recursos da ordem de US$ 725 milhões.

Internamente, os países têm buscado as próprias soluções para impulsionar soluções sustentáveis. No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece algumas opções. Uma das principais é o Fundo Clima, que apoia desde a compra e produção de máquinas e equipamentos com maiores índices de eficiência energética até projetos de plantio florestal com espécies nativas.

A instituição ainda pretende emitir um título verde no mercado internacional para captar cerca de R$ 10 bilhões para o Fundo Clima. Até então, o fundo contava com mais de R$ 2 bilhões em créditos já contratados pelo BNDES.

Mercado global de carbono  

Entre tantos debates ao longo da COP28, o texto sobre o Mercado Global de Carbono, o chamado Artigo 6, não teve avanços substanciais como esperado. O tema é de grande interesse do setor produtivo. 

Em âmbito nacional, o mercado de carbono está prestes a ser regulado. O tema está em discussão na Câmara e já foi aprovado pelo Senado.

A confederação ainda acredita que, com o mercado de carbono, é possível chegar à neutralidade climática até 2050 e, ainda, aumentar o nível de atividade econômica do país, reduzindo a taxa de desemprego. 

Cases de sucesso 

Durante a COP28, algumas empresas brasileiras aproveitaram para expor as soluções sustentáveis que já estão sendo colocadas em prática no país.  

Latam Brasil

foto colorida de um avião voando - Metrópoles

A Latam Airlines levou para a conferência da ONU as estratégias para redução dos impactos ambientais, que vão desde a redução de plásticos de uso único e redução de 50% das emissões domésticas de CO2 antes de 2030, implementação de veículos elétricos para o atendimento de aeronaves em solo e até a aquisição de aeronaves mais eficientes, como o Airbus A320neo e o Boeing 787. 

Acelen 

A empresa de energia Acelen conseguiu reduzir, em um ano, 273 mil toneladas das emissões de CO2. O montante equivale à plantação de 22.356 hectares de árvores ou a 1.196 estádios do tamanho do Maracanã. Para alcançar esse resultado, a empresa aplicou R$ 60 milhões em ações de eficiência energética. Além de R$ 1,4 bilhão em um intenso processo de recuperação, manutenção e modernização da refinaria.

BRF

A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, assumiu a meta de ser NetZero (zerar emissões líquidas de gases de efeito estufa) até 2040. Um compromisso que foi abordado na COP28, junto com outras ações como, por exemplo, a transição energética. A BRF firmou parcerias com instituições financeiras para garantir a troca da matriz energética do início da cadeia por energias renováveis. Dos cerca de 10 mil produtores associados à empresa, mais de 1,5 mil já contam com energia solar. 

Atvos

A produção de energia limpa é um dos principais propósitos da Atvos, empresa que produz e comercializa produtos a partir da cana-de-açúcar como etanol, energia elétrica e açúcar VHP (matéria-prima para o açúcar refinado).

Capaz de moer 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano, a empresa tem a capacidade de abastecer 60 milhões de carros compactos com etanol, produzir açúcar suficiente para adoçar 20 milhões de festas de aniversário e prover energia elétrica para mais de 15 milhões de pessoas. O que a torna a segunda maior produtora de etanol do Brasil e uma das principais emissoras de créditos de descarbonização do país. 

Vale 

Uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, a Vale tem investido em ações para viabilizar uma mineração de baixo carbono. As medidas desenvolvidas passam pelo desenvolvimento de produtos e tecnologias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, testes com locomotivas de pátio e caminhões de pequeno porte elétricos, além de estudos com fontes alternativas de combustíveis, como amônia, etanol e biodiesel.

A utilização de fontes de energia limpas e renováveis também faz parte das estratégias de redução das emissões de CO2. Em julho deste ano, o complexo em Jaíba (MG), responsável por 16% da energia consumida pela Vale no Brasil, atingiu a capacidade máxima de produção com a implementação da energia solar.

CNI

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