Com Bruna Lima, Edoardo Ghirotto, Eduardo Barretto e João Pedroso de Campos

Lula e Biden anunciam que EUA irão aderir ao Fundo Amazônia

Lula disse que levou a Biden a necessidade de países desenvolvidos aderirem a um fundo, podendo ser o Amazônia ou não, para a preservação

atualizado 10/02/2023 22:36

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Washington (DC) – O presidente Lula afirmou nesta sexta-feira (10/2), após reunir-se com o presidente Joe Biden, na Casa Branca, que os Estados Unidos irão aderir ao Fundo Amazônia, por meio do qual Alemanha e Noruega contribuem para a proteção da Amazônia. Após o anúncio de Lula, um comunicado conjunto (leia a íntegra ao fim desta reportagem) dois dois presidentes confirmou um “apoio inicial” ao fundo. O valor inicial deve ser US$ 50 milhões. O texto divulgado pelos dois falou ainda da importância de se trabalhar pela paz na Ucrânia e da reforma do Conselho de Segurança da ONU, com a ampliação dos assentos permanentes.

Lula disse que levou a Biden a necessidade de países desenvolvidos aderirem a um fundo, podendo ser o Amazônia ou não, para a preservação de florestas em países que têm grandes áreas de reservas florestais.

“Países ricos precisam assumir a responsabilidade de financiar países com reservas florestais. Só na América do Sul, nós temos o Peru, a Colômbia, a Venezuela, as Guianas. Nós temos a necessidade de preservar e o que eu posso dizer é que ele vai participar do Fundo Amazônia”, disse Lula.

O presidente também defendeu a Biden a criação de um organismo multilateral para cuidar da governança mundial do clima.

Lula disse também que na conversa com Biden, os dois chefes de Estado conversaram sobre igualdade racial e fortalecimento da democracia. O presidente apontou que a relação do Brasil com os Estados Unidos é “muito importante”, e que o presidente americano está convencido a ajudar países com reservas florestais, como Brasil e o Congo.

“É preciso ter em conta que nós precisamos transformar a riqueza da nossa biodiversidade em algo que possa ser proveitoso para o povo brasileiro que mora Amazônia, e eu senti vontade do presidente Biden em participar de um fundo para que a gente possa cuidar melhor do nosso planeta”, disse Lula.

Guerra na Ucrânia

O presidente informou também que levou a Biden a necessidade de por um fim na Guerra da Ucrânia. Lula disse que apresentou ao presidente americano a mesma proposta feita ao presidente francês Emmanuel Macron e ao chanceler da Alemanha, Olaf Scholz.

“Nós precisamos criar um grupo de países que não estão envolvidos diretamente na guerra da Rússia contra Ucrânia para que a gente encontre possibilidade de paz. Eu estou convencido que é preciso encontrar uma saída para o fim da guerra e ele [Biden] compartilha da mesma preocupação”, disse o presidente brasileiro.

Lula e Biden têm divergências sobre como tratar a guerra na Ucrânia. O governo americano, a exemplo do que fizeram França e Alemanha, gostaria de que o Brasil fornecesse armamentos para a Ucrânia, o que já foi negado por Lula.

Antes do encontro entre os presidentes, na quinta-feira (9/2), a Casa Branca informou aos jornalistas que o governo americano via com ressalvas a proposta de Lula para formar um “clube da paz” para a Ucrânia. Os EUA são intransigentes em relação ao reconhecimento de que a Ucrânia teve a soberania violada pela Rússia.

No comunicado conjunto divulgado por Lula e Biden, o tom sobre a responsabilidade da Rússia no conflito foi mais duro do geralmente adotado pelo petista ao tratar do tema.

“Ambos os presidentes lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional”, afirmou o texto.

Leia a íntegra do comunicado conjunto dos dois presidentes

“Hoje, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da República Federativa do Brasil, e o Presidente Joseph R. Biden Jr., dos Estados Unidos, encontraram-se em Washington, D.C. Durante o encontro, os dois líderes reafirmaram a natureza vital e duradoura da relação Brasil-EUA e ressaltaram que o fortalecimento da democracia, a promoção do respeito aos direitos humanos e o enfrentamento da crise do clima figuram no centro de sua agenda comum.

Como líderes das duas maiores democracias das Américas, o Presidente Lula e o Presidente Biden comprometeram-se a trabalhar juntos para fortalecer as instituições democráticas e saudaram a segunda Cúpula pela Democracia, a realizar-se em março de 2023. Ambos os líderes notaram que continuam a rejeitar o extremismo e a violência na política, condenaram o discurso de ódio e reafirmaram sua intenção de construir resiliência da sociedade à desinformação e concordaram em trabalhar juntos nesses assuntos. Discutiram os objetivos compartilhados de fazer avançar a agenda dos direitos humanos por meio da cooperação e da coordenação em questões tais como inclusão social e direitos trabalhistas, igualdade de gênero, equidade e justiça raciais, e proteção dos direitos das pessoas LGBTQI+. Também assumiram o compromisso de revitalizar o Plano de Ação Conjunta Brasil-EUA para a Eliminação da Discriminação Étnico-Racial e Promoção da Igualdade, para benefício mútuo de comunidades raciais, étnicas e indígenas marginalizadas, incluindo pessoas de ascendência africana, em ambos os países.

Ambos os líderes estão determinados a conferir urgente prioridade à crise climática, ao desenvolvimento sustentável e à transição energética. Reconhecem o papel de liderança que o Brasil e os EUA podem desempenhar por meio da cooperação bilateral e multilateral, inclusive no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e do Acordo de Paris. Os Presidentes Lula e Biden recordaram a Iniciativa Conjunta sobre Mudança do Clima, estabelecida em 2015, que criou o Grupo de Trabalho de Alto Nível Brasil-EUA sobre Mudança do Clima (GTMC). Decidiram instruir o GTMC a voltar a reunir-se com a maior brevidade possível, com vistas a examinar áreas de cooperação, como combate ao desmatamento e à degradação, reforço da bioeconomia, estímulo à implantação da energia limpa, fortalecimento de ações de adaptação e promoção de práticas agrícolas de baixo carbono. Como parte desses esforços, os Estados Unidos anunciaram sua intenção de trabalhar com o Congresso para fornecer recursos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia, e para alavancar investimentos nessa região muito importante. Os líderes expressaram, ainda, a determinação de lutar contra a fome e a pobreza, reforçar a segurança alimentar global, fomentar o comércio e eliminar barreiras, promover a cooperação econômica e fortalecer a paz e a segurança internacionais. 

Também discutiram o interesse em intensificar a cooperação bilateral em áreas como comércio e investimentos, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação, defesa, educação e cultura e assuntos consulares, por meio de abordagem focada em resultados que beneficiem ambas as sociedades. Ao reconhecer a importância da resiliência das cadeias de suprimentos, especialmente na atual conjuntura global, comprometeram-se a continuar a cooperação nesse campo com diálogos público-privados específicos.

Os dois líderes também examinaram ampla gama de questões globais e regionais de interesse mútuo. Ambos os presidentes lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional e conclamaram uma paz justa e duradoura. Os líderes expressaram preocupação com os efeitos globais do conflito na segurança energética e alimentar, especialmente nas regiões mais pobres do planeta e externaram apoio ao funcionamento pleno da Iniciativa de Grãos do Mar Negro. Os Presidentes Lula e Biden tencionam fortalecer a cooperação em instituições multilaterais, inclusive no contexto da vindoura presidência brasileira do G20. Os dois líderes expressaram a intenção de trabalhar juntos para uma reforma significativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como a expansão do órgão para incluir assentos permanentes para países na África e na América Latina e Caribe, de modo a torná-lo mais representativo dos membros da ONU e aperfeiçoar sua capacidade de responder mais efetivamente às questões mais prementes relacionadas à paz e à segurança globais. 

O Presidente Lula convidou o Presidente Biden a visitar o Brasil, e o Presidente Biden aceitou o convite. Os dois líderes comprometeram-se a ampliar seu diálogo e buscar cooperação mais profunda em preparação para a celebração do bicentenário das relações diplomáticas Brasil-EUA em 2024.”

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