Aliados do ex-procurador geral da República Augusto Aras foram pegos de surpresa pelas medidas tomadas por Elizeta Ramos, que o sucedeu no cargo de PGR de forma interina, envolvendo a tentativa de revisão bilionária do acordo de leniência da J&F encampada pela gestão anterior.
Uma das últimas medidas de Lindôra Araújo, vice-procuradora-geral na gestão Aras, foi pedir para encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime acusando de irregularidades os procuradores que fecharam o acordo, protocolada pelo deputado Rui Falcão, do PT de São Paulo.
Elizeta, que está no cargo há uma semana, pediu vista no processo e disse a pessoas próximas que estranhou o pedido, já que Lindôra pediu para remeter o assunto à reclamação relatada pelo ministro do STF Dias Toffoli sobre o acordo da Odebrecht. Aparentemente, segundo fontes ouvidas pela coluna, os assuntos não têm relação.
A manobra de Lindôra foi interpretada no MPF como uma forma de fazer com que uma eventual discussão criminal sobre o acordo da J&F caia futuramente nas mãos de Toffoli, associando os dois assuntos através da notícia-crime.
Outro episódio na última semana irritou Aras. Elizeta tirou o cargo do coordenador da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão, o procurador Ronaldo Albo, que sugeriu um desconto de R$ 6,8 bilhões no acordo de leniência da J&F.
Aras passou a se movimentar para pressionar petistas pela substituição de Elizeta, que ocupa o cargo interinamente até Lula indicar o próximo PGR. Seus aliados atuam para associar a PGR interina ao “lavajatismo”.
A preocupação de Aras, segundo procuradores ouvidos pela coluna, é de que a interinidade de Elizeta se estenda por alguns meses e que outras medidas como essas, tomadas no apagar das luzes de sua gestão, sejam revertidas.
Aras, inclusive, não desistiu de ser reconduzido e é o nome favorito do senador Davi Alcolumbre, presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, responsável por marcar a sabatina do eventual indicado.
