Com Bruna Lima, Edoardo Ghirotto, Eduardo Barretto e João Pedroso de Campos

CFM faz pesquisa enviesada contra vacina infantil de Covid

Conselho Federal de Medicina (CFM) questiona a médicos se pais de crianças têm direito de não vaciná-las contra a Covid

atualizado 12/01/2024 16:00

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goias vacinacao infantil aparecida Claudivino Antunes/Prefeitura de Aparecida

O Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou uma pesquisa junto aos médicos brasileiros que questiona se os pais de uma criança de até cinco anos têm o direito de não vaciná-la contra a Covid, e se o imunizante deveria ou não ser obrigatório. Essa e outras perguntas têm recebido críticas de que seriam enviesadas para desencorajar a vacinação infantil.

Na pesquisa online com médicos lançada na última terça-feira (9/1), o CFM questiona:

– “Os pais e responsáveis têm o direito de não optar pela imunização de suas crianças?”
– “A aplicação de vacinas contra covid-19 em crianças com idades entre 6 meses e 4 anos e 11 meses deve ser obrigatória?”.

Essa faixa etária tem a vacinação recomendada pelo governo federal. A imunização de crianças de seis meses a cinco anos de idade deve ser feita em três doses. Entre a primeira e a segunda, o intervalo é de quatro semanas. Entre a segunda e a terceira, de oito semanas.

Não existe, porém, nenhuma obrigação de vacinar, tal qual todos os outros imunizantes no país, com crianças ou adultos. O cidadão é livre para decidir vacinar-se ou não.

O CFM teve uma postura abertamente negacionista durante a pandemia, alinhada ao governo Bolsonaro. Publicou um parecer pró-cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a doença que matou 700 mil brasileiros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma “forte recomendação” contra o uso da substância nesse tratamento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) jamais aprovou a cloroquina para esse fim.

A atitude do CFM baseou diversos atos negacionistas do governo Bolsonaro. O relatório final da CPI da Covid pediu em 2021 o indiciamento do então presidente do conselho, Mauro Ribeiro, pelo crime de epidemia com resultado morte, cuja pena vai até 30 anos de prisão.

Na semana passada, um estudo publicado na revista científica Biomedicine & Pharmacotherapy afirmou que, na primeira onda da pandemia, em 2020, 17 mil mortes em seis países ocorreram devido ao uso da cloroquina.

Procurado, o CFM não respondeu. O espaço está aberto a eventuais manifestações.

Em nota, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) disse que a pesquisa do CFM equipara “crenças pessoais à ciência”. “A pesquisa realizada pelo CFM não trará nenhum benefício à sociedade, uma vez que — ao equiparar crenças pessoais à ciência — pode gerar insegurança na comunidade médica e afastar a população das salas de vacinação”. Segundo a SBIm, “a vacinação contra a covid-19 é uma estratégia comprovadamente eficaz e segura para a prevenção da doença, potencialmente fatal em todas as faixas etárias, inclusive entre crianças”.

(Atualização às 16h de 12 de janeiro de 2024: Em nota, o CFM afirmou que não contestou a inclusão da vacina de Covid no Calendário Nacional de Vacinação, e que fez pesquisas semelhantes sobre telemedicina e publicidade médica. “Os médicos têm opiniões com base em conhecimento técnico-científico, são profissionais, pesquisadores e estudiosos em diversas áreas da ciência médica e são capacitados a se manifestarem sobre a obrigatoriedade da vacina contra Covid”.)

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