Com Bruna Lima, Edoardo Ghirotto, Eduardo Barretto e João Pedroso de Campos

Abin identificou metade dos alvos dos 1,8 mil monitoramentos

Acionada pela PF, Abin conseguiu identificar cerca de metade dos monitoramentos feitos pelo sistema First Mile

atualizado 25/10/2023 18:13

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Abin Hugo Barreto/Metrópoles

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) conseguiu identificar os nomes de cerca de metade dos 1,8 mil números de telefone cuja geolocalização foi monitorada por meio do programa First Mile. O trabalho foi feito pelo Departamento de Operações da agência a pedido da Polícia Federal (PF).

A relação entre PF e Abin se tensiona há meses. Um dos atritos entre as duas corporações na investigação veio após a agência dizer que seria preciso quebrar o sigilo das linhas telefônicas para descobrir os titulares dos números monitorados. Investigadores da PF suspeitam que a agência sabia quem eram as pessoas monitoradas pelo sistema e se recusava a informar.

Na Abin, agentes negam que essa lista exista e dizem que os monitoramentos eram feitos caso a caso, inserindo o número de telefone no sistema para obter os dados de geolocalização. Ou seja, não haveria, segundo esta versão, um registro completo de quem são os titulares das linhas.

A lista de nomes a que a agência conseguiu chegar após ser acionada pela PF inclui políticos, jornalistas, advogados e até professores universitários vistos como opositores de Jair Bolsonaro, como já mostrou a coluna. Houve um uso intenso do programa em áreas nobres do Rio de Janeiro e de Brasília e durante as eleições de 2020.

Segundo integrantes da agência ouvidos pela coluna, todas as informações disponíveis foram repassadas à PF. Já os policiais dizem que a agência se recusou a colaborar, não respondeu todos os ofícios enviados e, em alguns casos, só enviou respostas após ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro ponto com versões conflitantes é a data em que foram apagados os computadores em que o First Mile era usado. Investigadores da PF suspeitam de que a formatação para as condições de fábrica tenha ocorrido após o início da investigação, em 2023. Integrantes da Abin dizem que os computadores foram limpos por rotina, ainda em 2021.

Essa limpeza, de acordo com quem estava familiarizado com o sistema, não apagou os rastros dos alvos de monitoramento porque essas informações se encontram no servidor do First Mile, da empresa Cognyte, e não nos computadores da Abin.

A PF suspeita que houve 30 mil monitoramentos, dos quais a Abin teria informado apenas 1,8 mil, e que a formatação dos computadores teria servido para ocultar as informações do restante das linhas telefônicas.

Novamente, na agência, essa versão é disputada. Agentes da Abin afirmam que a PF descobriu, de fato, um histórico com cerca de 33 mil “logs”, mas que houve apenas 1,8 mil números pesquisados e que nada foi apagado. Portanto, cada log, segundo os agentes ouvidos pela coluna, não corresponderia necessariamente à pesquisa de um número diferente, mas sim a cada comando que foi dado ao software.

O inquérito no STF, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, está sob sigilo. Entre as informações sensíveis que constam nos autos, estão os nomes dos 35 servidores que usavam o software de geolocalização.

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