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Trump vira réu pela quarta vez. Bolsonaro espera ser preso

Um tem chances de se eleger presidente pela segunda vez. O outro, de ser banido da política

atualizado 15/08/2023 4:07

Bolsonaro e Trump Alan Santos/PR

Não é verdade que a Justiça brasileira é mais lenta que a  americana. Donald Trump está sendo acusado por crimes que cometeu antes de se tornar presidente dos Estados Unidos, no exercício do cargo e depois de perder a eleição para o democrata Joe Biden em novembro de 2020.

Aqui, Bolsonaro já foi condenado e ficou inelegível por 8 anos, acusado por ataques à democracia e abuso do poder político. Ainda poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal para reverter a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, mas as chances de sucesso ali são iguais a zero. De resto, responde a pelo menos 14 processos.

Entre eles, não consta o roubo de joias que pertenciam ao Estado brasileiro, nem a tentativa de obstrução de Justiça por vendê-las no exterior e, quando descoberto, recomprá-las e devolvê-las como se nada tivesse acontecido. Para o distinto público, é mais fácil entender o que seja um roubo do que um ataque à democracia.

Pela quarta vez em poucos meses, Trump foi acusado na segunda-feira à noite (15) de tentar reverter de forma corrupta os resultados das eleições de 2020. Virou réu pela quarta vez, nesta ao lado de mais 18 pessoas, suas aliadas, inclusive o ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph W. Giuliani, que atuou como seu advogado.

Nunca um ex-presidente americano virou réu. O que não tinha precedente virou rotina no caso de Trump. Em um período curto, os americanos já viram isso três vezes, e de novo ontem. Parecem acostumados e, pior, anestesiados. Para metade do país, Trump é um infrator em série; para a outra metade, um perseguido.

“As acusações acumuladas são uma espécie de ruído branco para os eleitores”, disse ao The New York Times Sarah Longwell, a consultora política republicana que organizou a oposição a Trump e conduz pesquisas semanais com eleitores. “Eles não conseguem mais fazer diferença entre as acusações, que se confundem”.

Quando Trump foi indiciado em abril por crime de suborno, a primeira acusação contra um ex-presidente na história, 8,2 milhões de pessoas sintonizaram a Fox, MSNBC e CNN para assistir. Mas quando foi indiciado em junho por ter roubado documentos secretos, a audiência caiu para 5,5 milhões.

De certo modo, Bolsonaro, o único presidente não reeleito, espera que a mesma coisa o beneficie – o cansaço do público com tantas acusações, que Sarah Longwell chama de “ruído branco”, e a fidelidade de uma fatia dos seus devotos que o julgam inocente. Nem tudo, porém, que é bom para Trump será bom para ele.

É improvável que Trump seja preso. Bolsonaro poderá ser preso a qualquer momento, basta que um juiz de primeira instância determine. Mesmo que Trump fosse condenado e preso, poderia candidatar-se a presidente, e uma vez eleito, governar de dentro da cadeia. Sua primeira medida seria conceder perdão para si.

A inelegibilidade de Bolsonaro por oito anos será estendida se ele for condenado em outros processos, o que é quase certo. No baralho da política, Bolsonaro é uma carta que só perde valor; Trump, não. Derrotar Trump no próximo ano será uma parada indigesta para Biden, que pretende se reeleger.

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