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As lições do Papa, religião à parte (Por Sónia Sapage)

A ministra Ana Catarina Mendes disse que “Portugal superou a sua tarefa”, mas quem também a superou foi o Papa Francisco

atualizado 08/08/2023 0:54

Laparocele: conheça a condição que levou o Papa Francisco a uma cirurgia de emergência O Vaticano comunicou ontem que o Papa Francisco foi internado em emergência para tratar de uma laparocele. Saiba mais sobre a condição Getty Images

A visita do Papa Francisco a Portugal foi mais do que a passagem do líder da Igreja Católica pelo nosso país: foi a visita comovente e calorosa de um chefe de Estado que foi seguido e ouvido com uma atenção peculiar e que teve um tempo de antena muito além do habitual.

No final da missa de Envio, a ministra Ana Catarina Mendes disse que “Portugal superou a sua tarefa”, e não deixa de ser verdade (foi mais um momento bom para a nossa auto-estima de organizadores), mas quem também a superou foi Francisco.

Religião à parte, com palavras directas e empáticas, o Sumo Pontífice partilhou lições de vida que servem jovens, menos jovens, chefes de família, ateus, fiéis e até responsáveis políticos internacionais. E, nesse sentido, tentou espalhar sementes de bom senso e de proximidade (não exclusivas da Igreja), mostrando por que razão é uma figura tão consensual, próxima e diferente de outros protagonistas religiosos.

Pediu desculpa às vítimas de abusos sexuais; falou sobre a importância de ouvir e de fazer perguntas (“ser descontente é um bom antídoto contra a presunção da auto-suficiência e o narcisismo”); dedicou uns minutos às “injustiças planetárias, guerras, crises climáticas e migratórias”; lamentou a “falta corajosa de rotas de paz” e não esqueceu questões actuais como a saúde mental e as redes sociais.

O mundo virtual, que preocupa tantos educadores, foi um dos pontos em que o Papa Francisco mais insistiu: “O teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado.” Uma lição simples e importante.

Ao Ocidente em geral e à Europa em particular, deixou vários alertas sobre “o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios”, fazendo, ainda assim, a apologia da vida, contra o aborto e a eutanásia — como seria de esperar.

As alegorias sobre inclusão que dirigiu à Igreja são transversais e servem para “todos, todos, todos” (como foi repetindo), noutras religiões, noutros países, noutras áreas de saber. “Ninguém fica de fora, ninguém está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos.”

Não é preciso ser fanático de futebol para perceber como o Euro e o Mundial são eventos com uma energia mobilizadora para o país anfitrião. Assim como não é preciso ser crente para reconhecer que também foi isso que aconteceu com a Jornada Mundial da Juventude, e ainda bem.

(Transcrito do PÚBLICO)

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