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A paz em verde e amarelo (por Marcos Magalhães)

A melhor notícia seria a de que os mais violentos dos autointitulados patriotas fiquem em casa no 7 de setembro

atualizado 08/09/2023 12:13

imagem colorida ensaio do 7 de setembro - metrópoles Breno Esaki/Metrópoles @BrenoEsakiFoto

A poucos dias da celebração da data nacional brasileira, um jovem casal americano divulgou em seu canal no YouTube as imagens de sua primeira manhã em São Paulo. Pelas lentes dos viajantes do Arizona, o que se vê é algo bem distante do que passou a ser a rotina do 7 de setembro por aqui nos últimos anos.

“Good morning from São Paulo”, dizem os americanos enquanto compartilham as cenas de sua primeira refeição, em um café sofisticado da Vila Madalena. O olhar de turistas felizes passeia depois pela Avenida Paulista e se dilui na multidão do Parque Ibirapuera.

No meio do caminho de um domingo ensolarado os dois se divertem ao ver uma roda de pagode, o ensaio de uma batucada e dezenas de pessoas ensaiando uma dança coreografada no meio da avenida. “Ver tanta gente dançando nos fez sorrir”, escrevem no vídeo.

Corte para a mesma época, há dois anos e a 1200 quilômetros de distância. A pouco mais de mil metros da Praça dos Três Poderes, centenas de caminhões estacionaram na avenida L4, em Brasília, em demonstração de apoio ao presidente que insinuava um golpe de Estado.

Com bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul, viajantes acampados perto do centro da capital exibiam aos motoristas dos carros que passavam um sorriso de quem havia tomado posse do lugar. E a cidade parecia refém dos golpistas de plantão.

Há um ano, mais uma vez, Brasília e outras grandes cidades brasileiras despertavam sobressaltadas com os boatos de intervenção militar. Aquilo que seria a festa dos 200 anos de independência do Brasil se transformou em mais um episódio de guerra política.

O protagonista dessa guerra não está mais no Palácio do Planalto. A sua ausência pode significar que teremos um 7 de setembro em paz, como nos velhos tempos?

Pode ser que os visitantes do Arizona, se ainda estiverem por aqui, celebrem a festa com os brasileiros que encontrarem pelo caminho. Pode ser que os milhares de turistas que começam a chegar ao país voltem para casa com as mesmas recordações de música, dança e alegria.

Ou não. Na verdade, depois de quatro anos de fortes emoções ninguém sabe exatamente o que nos espera mesmo em uma data festiva. O ministro da Justiça, Flávio Dino, enviou por precaução ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, uma dezena de vídeos que circulam na internet com ameaças de atos violentos na data nacional.

A melhor notícia seria a de que os mais violentos dos autointitulados patriotas fiquem em casa no 7 de setembro, como sugerem nas redes sociais algumas lideranças de extrema direita. Assim poderemos chegar ao fim do dia celebrando a normalidade.

Pois é de um pouco de normalidade que precisamos, depois de tanta instabilidade e de tantas ameaças. Um 7 de setembro que permita ao país respirar de novo.

A pausa do feriado antecede um período de grandes e difíceis decisões, no momento em que o Brasil enfrenta igualmente enormes desafios e que o mundo passa por um período de incertezas e de instabilidade, tanto política como econômica.

A pauta legislativa inclui temas como o novo arcabouço fiscal, a cobrança de maiores impostos dos mais ricos, a reforma tributária, o Orçamento da União para 2024 e o Plano Plurianual para os próximos quatro anos. Decisões que vão desenhar a economia ao longo do atual mandato.

O Poder Executivo, por sua vez, calibra a nova política externa em reuniões como a do fim desta semana, na Índia, do G-20, grupo das maiores economias do planeta, que o Brasil vai presidir até a próxima cúpula do grupo, marcada para novembro de 2024, no Rio de Janeiro.

Enquanto isso, o governo começa a colocar em prática novas políticas públicas em áreas tão sensíveis como educação – onde há desafios como a implantação do novo ensino médio – e saúde, que se reinventa após o negacionismo dos tempos da pandemia.

As atenções ainda estão muito voltadas para o brilho das joias sequestradas do domínio público pela antiga família presidencial. Mas muito do que nos espera como nação no futuro próximo depende de decisões que serão tomadas nos próximos meses.

Decisões assim tão importantes tendem a ser mais equilibradas quando tomadas em ambiente de tranquilidade política. O simbolismo de um 7 de setembro em paz, em que o verde e o amarelo voltem a ser as cores de todos, tem muito a contribuir para isso.

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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